
Trinta anos se passaram e, agora, é hora de relembrar o passado, comemorar o presente e planejar o futuro desta importante instituição de nossa Igreja, hoje sob a direção do meu amado irmão, o Eminentíssimo Senhor Cardeal da Santa Igreja Romana, Dom Raymundo Damasceno Assis, sob a supervisão da Congregação do Santíssimo Redentor, mais popularmente conhecida por Congregação dos Redentoristas, fundada por Santo Afonso Maria de Ligório (1696-1797), ele mesmo grande devoto da Mãe de Deus e nossa mãe (cf. Jo 19,26-27) e autor de várias obras mariológicas, dentre as quais se sobressai o livro As glórias de Maria (Ed. Santuário, sucessivas edições).
Ora, é certo que o Pai legou a todos os Seus filhos um amor verdadeiro a Virgem Santíssima; amor não voltado a devoções superficiais e até supersticiosa, mas, sim, à verdadeira devoção a Nossa Senhora, como a Igreja ensina. Isso requer piedade, mas também estudos. Eis uma das funções da Academia: ajudar no melhor conhecimento d’Aquela que Deus escolheu para ser a Mãe do seu Filho.
Esse parece sempre ter sido o objetivo desta gloriosa instituição no dizer de seus diretores, dentre eles, o Pe. Ademir Bernardelli, agora servindo na Diocese de Amparo, SP, ao afirmar que “a Academia desenvolve a formação dos cristãos para que conheçam melhor a pessoa e a missão da Mãe de Jesus na história da salvação, esclarecendo a sua presença nos dogmas, na liturgia e nos diversos títulos. Promove diálogo ecumênico e interreligioso para estudar e aprofundar o mistério, o significado e o papel de Maria na Igreja e na vida pessoal de cada um”.
No entanto, é preciso ressaltar, ainda como o mesmo ex-diretor, que, embora tenha o título de Academia Marial, pois visa a formar pessoas especializadas no conhecimento de Maria, o trabalho não se volta apenas, nem somente a estudiosos ou teólogos, mas, sim, a todo o Povo de Deus que se interessa por Nossa Senhora e quer ajudá-la a ser mais conhecida e amada pelo Brasil e pelo mundo afora. (Hoje a Academia tem muitos associados também no Exterior).
É de se pensar que os sócios da Academia Marial – colaboradores da maior difusão do nome de Maria – sempre cumprem duas passagens bíblicas muito importantes: uma é a que diz: “Todas as gerações hão de chamar-me de Bem-aventurada”. (Lc 1,48), e a outra é a de que quem fala da Mãe, divulga o nome do Filho, Jesus Cristo, Nosso Senhor, centro de nossa fé, para quem Ela mesma aponta, dizendo: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. (Jo 2,5).
Essa nobre missão a Academia cumpre em seus congressos, exposições, artigos científicos ou populares, e livros publicados com a intenção de chegar ao maior número possível de pessoas. E há dúvidas na mente de não poucos homens e mulheres a respeito da Mariologia. Sim, muitos questionamentos sadiamente curiosos ou até não muito bem intencionados surgem entre o povo e requer esclarecimentos claros e precisos, a fim de que a fé seja mais adulta e madura, ultrapassando a importante, mas não suficiente catequese infantil. Tudo isso, claro, sempre dentro das verdades professadas pela Igreja com seu magistério ordinário e/ou extraordinário (cf. Catecismo da Igreja Católica n. 889-892).
Voltando, porém, à Academia Marial, dizemos que ela tem realizado, nos últimos anos, o Congresso Mariológico, mais de estudos (o IX será de 10 a 13 de setembro deste ano, com o tema: Iconografia de Aparecida: a teologia da imagem), e a Assembleia dos Associados, mais em nível geral. No entanto, é preciso ainda maior divulgação nos meios universitários e religiosos, dizem os ex-diretores, pois, embora haja quem escreva livros, artigos, poesias sobre Nossa Senhora – e isso engrandece o trabalho mariológico –, é necessário maior acesso às universidades e organizações religiosas com vistas à ampliação desse rico trabalho evangelizador.
Contudo, até julho de 2015, esta instituição já havia computado em seus quadros 400 sócios, sendo 272 homens e 128 mulheres: 3 cardeais, 17 bispos, 86 padres, 6 irmãos, 7 irmãs, 4 diáconos, 1 frater, 5 cônegos, 5 frades e 262 leigos e leigas; o maior congresso foi em 2012, com 187 participantes; o ano de 2013 deu ao jornal Santuário 52 artigos; a Biblioteca, obviamente especializada em Mariologia, chega a 2.877 obras e, no ano de 2014, os estudiosos forneceram, virtualmente, ao povo 356 homilias.
Relembrando um pouco da história, vale dizer que o fundador e primeiro diretor da Academia Marial foi um sacerdote diocesano que, nascido em Campinas, em 1918 e ordenado em São Paulo, em 1941, atuou em Campinas na vida pastoral e magisterial na PUC-Campinas de 1969 a 1980. Naquele ano, foi a Aparecida, acolhido por Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, então Cardeal Arcebispo de Aparecida, a fim de trabalhar na formação de seminaristas diocesanos, aí permanecendo até 1998. Foi nessa sua longa atuação na “Terra da Padroeira do Brasil” que o Pe. Machadinho, como era conhecido, fundou, em 1985, na Torre Brasília (do Santuário Nacional), a Academia Marial de Aparecida (AMA), por ele dirigida até sua saída do cargo em 1998, ano em que retornou a Campinas, diocese na qual morreu cônego, e a Academia passou às mãos dos Redentoristas.
Devoto de Nossa Senhora, especialmente sob o título de Aparecida, escreveu, em 1975, o volumoso livro Aparecida na história e na literatura. Deixou escrito à Mãe do céu os seguintes dizeres: “Em teu coração, Trono de Deus, deixa que eu deposite o ramalhete de minha gratidão. São flores do Brasil. Desejo-te sempre mais glorificada nessa abençoada Pátria. Que todos reconheçam o suave império do teu amor materno. E do teu manto não me deixes afastar. Guarda-me, embora indigno, porque sou para sempre o teu pequenino servo, João, por mercê de Deus, Sacerdote…” (Pe. Valdivino Guimarães, CSsR. Diretor da Academia Marial de Aparecida. Santuário, 12/07/15, p. 4. A).
Para concluir esta reflexão, cito o Padre José Fernandes de Oliveira, SCJ, o conhecido Padre Zezinho, que assim escreve a propósito do culto de adoração (latria) a Deus Uno e Trino e de veneração (dulia) aos santos e às santas da Igreja. Nesse culto, a Virgem Maria ocupa lugar especial e é venerada com o culto de hiperdulia, que, de modo algum, toma o insigne lugar de seu Filho Jesus, Deus feito homem por amor de nós. Diz o padre: “quando vejo as igrejas que desrespeitam Maria e alguns católicos que exageram na sua devoção por ela, penso na importância da catequese mariana. Maria foi a primeira a não aceitar louvor excessivo ao proclamar-se a serva do Senhor. Mas foi ela também, segundo Lucas o diz, que cantou o canto de Ana, mãe de Samuel. E foi também ela quem disse que, sempre segundo o evangelista, ela seria louvada por causa do seu filho. É como se disse: – Sou quem sou por causa do filho que gerei, e serei quem serei por causa do meu filho. Façam o que Ele mandar. Sigam os passos dele e não os meus”.
“Imaginemos Maria dentro desta perspectiva. Onde o filho for lembrado ela será lembrada. Onde ela for lembrada, o filho será lembrado. Ele adorado, e ela venerada, porque Ele é Deus e ela não é deusa. Mas entre os humanos e as humanas, depois de Jesus nunca houve ninguém mais ligada a Ele”.
“Fique claro para todos os que amam Maria que ela sabia o seu lugar. João Batista sabia. Os apóstolos aprenderam a saber. E Jesus deixou claro que todos eram chamados a fazer unidade com ele. Maior unidade com Jesus do que o ventre e o coração de Maria não houve. De Jesus, Maria entende. De Maria, Jesus entendeu. O diálogo dos dois era claro e maduro. Nem Ele deixou de ser filho e nem ela deixou de ser mãe. E a nós compete aprender que nem Jesus deixará de nos chamar e nem nós devemos deixar de chamá-lo”.
“São mais de trezentos nomes. Talvez mais de mil dedicados a Maria no mundo inteiro. E tudo decorre no nosso amor pelo seu Filho. É impensável que algum cristão ame Maria mais do que ame Jesus. Mas também é impensável que um cristão, não importa de qual Igreja, diminua o seu respeito por Maria por causa do seu suposto amor incondicional por Jesus. Um amor não exclui o outro. Amamos Jesus e por causa disso amamos Maria, e amamos Maria porque amamos Jesus”. (Santuário, 12/07/15, p. 3).
Possamos nós também querer aprender mais e mais sobre Maria, que nos leva a seu Filho Jesus Cristo, nosso Salvador, ou o nosso Santíssimo Redentor, como gostava de repetir Santo Afonso Maria de Ligório. Para isso precisamos, antes de tudo, rezar com amor redobrado ao Senhor Jesus e a Sua Mãe Santíssima, mas também, se possível, e isso é importante, recorrer ao aprendizado.
Aí está, pois, a Academia Marial de Aparecida (por e-mail: academia@santuarionacional.com) a acolher pessoas de qualquer lugar do país ou do exterior. Também a Arquidiocese do Rio de Janeiro ajuda-nos a conhecer melhor Nossa Senhora por meio do Curso de Mariologia, escrito por Dom Estêvão Bettencourt, OSB, e divulgado pela Escola Mater Ecclesiae (Fone (21) 22424552 ou pelo site: www.materecclesiae.com.br).
Parabéns à Academia Marial de Aparecida pelos seus 30 anos! Que dê muitos frutos para o nosso povo de Deus, agora e sempre!
Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro-RJ
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro-RJ