Problema que se arrasta há mais de 5 anos e afeta moradores e comerciantes das imediações da rodoviária de Cuiabá a cracolândia da Capital recebeu na manhã desta quarta-feira (13), uma ação pontual da prefeitura de Cuiabá, utilizando recursos do Governo Federal.
Mais de 30 moradores em situação de rua que vivem na região tiveram atendimento ctratamento a eles em comunidades terapêuticas.
A ação social é uma iniciativa da Secretaria de Ordem Pública, com a parceria das de Serviços Urbanos e Assistência Social e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil(CNBB). Ela faz parte do Programa ‘Crack, é possível vencer’, do governo federal, que está sendo desenvolvido na capital pela Secretaria de Ordem Pública e Governo do Estado há oito meses. O projeto tem como base aumentar a oferta de serviço de tratamento e atenção aos usuários e seus familiares, reduzir o mercado de drogas ilícitas por meio do enfrentamento ao tráfico e às organizações criminosas, promovendo ações de educação, informação e capacitação.
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O secretário de Ordem Pública, Henrique de Souza, diz que o programa tem trazido resultados positivos e o objetivo é ofertar encaminhamento para tratamento adequado. O secretário reconhece, contudo que não “vamos conseguir eliminar o problema, mas pelo menos minimizá-lo
Para o secretário da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o padre Jair Fante, que sempre participa das ações, a base principal para que esse grupo de pessoas, em situação degradante, consiga abandonar os vícios, é a família.
“Para ação ter um resultado positivo, precisamos do empenho dos dois lados. Isso aqui é uma parte do que temos que fazer, que é cuidar do ser humano como um todo. Mas é de extrema importância que eles retornem os valores da família, pois quando o ser humano perde isso, ele perde a base de tudo. E a sociedade hoje, está descuidando em demasiada da família, desse alicerce. Temos que retornar a esses valores, as esses elementos. E muitos dos casos aqui, são de pessoas que perderam a essência disso tudo. Que não tiveram uma base completa e buscaram nas drogas preencher o vazio que sentiam”, exemplificou.
Uma das colheitas do Projeto em Cuiabá, é Amilton José dos Santos, 42 anos, usuário de drogas durante 14 anos e que morou na rua por 1 ano e 6 mês e que está limpo há mais de 8 meses, depois de ter sido encaminhado pela equipe de apoio da prefeitura, à terapia e demais cuidados. Amilton contou que chegou a uma situação degradante e nem mesmo ele aguentava olhar para si.
“Nunca tive uma base familiar. Uma família equilibrada. Fui crescendo neste meio e quando percebi, já estava no mundo das drogas, que piorou muito a convivência com eles. Cheguei a um ponto de querer sumir. Foi quando procurei ajuda para me tratar e fui encaminhado à casa de apoio. Hoje, já me encontro bem melhor e limpo, sem fazer uso de drogas há quase um ano. Uma vitória que já não acreditava mais,” relatou.
“Isso aqui é uma ação conjunta, que requer esforços de todos e a sociedade pode nos auxiliar também. Muitas vezes, não necessariamente com doações, pois isso é importante também, mas passa, acaba. Ela pode ser voluntária. Auxiliar nas conversas, nos entendimentos dessa situação. Dessa maneira, eles começaram a entender que são enxergados e que ainda há solução”, finalizou o secretário Henrique de Souza.
As ações são desenvolvidas durante todo o ano e as visitas são feitas de acordo com as demandas, quando existe acumulo de lixo, aumento desses moradores no local, queixas da população, dificultando o trânsito de veículos e pessoas que circulam na região.
Segundo dados da Secretaria de Assistência Social e Desenvolvimento Humano, na capital existem mais 250 pessoas em situação de rua com uso de drogas. A incidência de usuários ainda é maior entre os homens, representando 70% desse número. Mas é registrado um crescimento entre as mulheres nos últimos anos, aproximadamente de 10%.
Programa se arrasta desde 2013
Em dezembro de 2013 a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) anunciava que havia mapeado 60 locais em Cuiabá e Várzea Grande que iriam receber as câmeras de videomonitoramento urbano do programa do Ministério da Justiça, “Crack é possível vencer”, que tinha como objetivo reaparelhar e modernizar as forças de segurança pública no combate a entorpecentes.
Na época a Sesp identificava os bairros Alvorada e Pedregal, em Cuiabá, e Mapim, em Várzea Grande. Os locais haviam sido definidos após estudo realizado pelo setor de Inteligência da Sesp, que identificou as regiões nas duas cidades que são utilizadas para o consumo e venda de entorpecentes, conhecidos popularmente como cracolândias.
O programa estabelecia a instalação de 60 câmeras, sendo 40 em Cuiabá e 20 em Várzea Grande. As câmeras possuem tecnologia em HD que possibilita velocidade de processamento de dados e melhor qualidade na imagem captadas. As imagens captadas pelas câmeras seriam enviadas para a base móvel, microonibus com tecnologia embarcada com capacidade de realizar o trabalho de videomonitoramento.
Além dos equipamentos de videomonitoramento, Mato Grosso já recebeu 150 espargiadores de pimenta, 50 pistolas spark, seis capacetes, duas viaturas e motos. Ainda por meio do programa, 139 bombeiros, guardas municipais, policiais civis e militares foram capacitados para atuar nas cracolândias e encaminhar os dependentes químicos para tratamento de desintoxicação.
O programa “Crack é possível vencer” irá beneficiar três municípios de Mato Grosso: Cuiabá, Várzea Grande e Rondonópolis. O convênio com o Governo Federal prevê o investimento de R$ 8 milhões para reaparelhar e capacitar as forças de segurança pública.