29/03/2023 ‘Cruz de Cristo’ emociona e marca 30ª edição da Romaria dos Mártires na Diocese de Rondonópolis/Guiratinga

Em sua primeira Romaria, o Bispo Diocesano Dom Maurício da Silva Jardim se diz ‘impressionado’ com fervor e número de fiéis no encontro.

Pelo menos 4 mil fiéis, representando as 22 paróquias da Diocese de Rondonópolis-Guiratinga, participaram no domingo, 26/03, da 30ª Romaria dos Mártires, uma das devoções populares católicas mais fortes do Centro-Oeste brasileiro.

Com o tema ‘Mártires, Graça e Missão’ e o lema ‘Corações ardentes, pés a caminho’ (Lucas 24, 32-33) o evento desse ano marcou a volta à normalidade da Romaria, impedida de acontecer em 2020 e 2021 e remanejada para agosto, junto com a Caminhada das Famílias, em agosto do ano passado – 2022.

A concentração e acolhida dos romeiros de Rondonópolis, Alto Taquari, Itiquira, Jaciara, Juscimeira, Dom Aquino, São Lourenço, Guiratinga, Tesouro e São José do Povo começou pouco antes das 16h no interior da Paróquia Nossa Senhora Aparecida e no pátio da igreja onde está o Santuário de Nossa Senhora.

FOME

Um dos primeiros apelos da Romaria foi lembrar os esforços da Igreja na preocupação com a fome, tema da Campanha da Fraternidade desse ano que apresenta textualmente a ordem de Jesus: “Dai-lhes vós mesmo de comer”.

Na abertura da Romaria e apresentação das bandeiras dos Mártires, Dom Maurício Jardim lembrou que o propósito fundamental do evento é lembrar a memória “dos que já se foram, em nome da defesa de sua fé em Cristo e dos direitos” das classes oprimidas. O bispo arrancou aplauso do público ao lembrar a memória de Dom Juventino Kestering, seu antecessor.

A leitura de um breve relato sobre o assassinato do Padre João Bosco Burnier, ocorrida em 1976, segundo consta por agente do Governo Militar, também emocionou o início da peregrinação, conforme o previsto, às 17h.

VOCAÇÕES

O tema do Ano Vocacional, ‘Emaús é aqui’, foi o conteúdo principal dos textos, intercalados com orações e cânticos no decorrer dos 2,5 km do percurso da Romaria pela avenida Dom Pedro II, até a Catedral Santa Cruz.

As leituras da procissão reforçaram a firme opinião da Igreja Católica sobre temas inegociáveis como o aborto, a violência e os maus tratos contra as crianças, as mulheres, os idosos e as minorias raciais, étnicas, sociais e culturais, entre outros meios, pela “fome, que mata”, citou um dos textos que cobrava ainda os esforços dos cristãos e de toda a sociedade por uma “estrutura justa”.

O despertar, discernimento e desenvolvimento das vocações leigas, ordenadas e consagradas foi outro tema das leituras da Romaria, chamando a atenção para a importância de cada uma e para a necessidade primordial de sua vivência com coerência entre a pregação e o testemunho de vida na igreja, nos negócios, na família e na vivência social e política.

CRUZ DE CRISTO

Na esquina das avenidas Dom Pedro II e Marechal Rondon, meio do percurso, deu-se um dos momentos mais emocionantes da Romaria; uma cena teatral da flagelação e crucifixão de Jesus, em um dos canteiros gramados da Praça dos Carreiros, emocionou os fiéis. “Diante da Cruz de Cristo, há três caminhos: lavar as mãos, gritar crucifica-o ou assumir a cruz com o Senhor”, provocou o texto de motivação, convidando os cristãos católicos a carregar a cruz com Jesus Cristo, na pessoa de cada ser humano que sofre com as mais diversas formas de violência e desrespeito.

Além do “compromisso com a Cruz de Cristo” no semelhante, a motivação também induziu os presentes ao “pedido de perdão” pelas práticas de vida pessoal e comunitária incondizentes com os mandamentos de Cristo e os contra testemunhos como a “destruição da casa comum”, as intolerâncias em geral e a falta de testemunho na vida de comunidade, especialmente da ‘Igreja doméstica’ – a família.

MARTÍRIO EXISTENCIAL

Uma das abordagens da motivação de abertura da Romaria – o ‘martírio existencial’ – foi reforçada por Dom Maurício na homilia da Missa de encerramento iniciada às 18h35 com a Catedral e o pátio do parreiral lotados.

“É o martírio do cotidiano do pai e mãe de família que educam seus filhos, que doam sua vida trabalhando; do jovem que estuda; dos padres que doam as suas vidas na Pastoral, das irmãs, os consagrados que na vida simples e escondida, estão, no dia-a-dia, doando a sua vida. É uma multidão de pessoas que, com justiça e com honestidade, vivem cada dia doando um pouco de si, não só pensando em si, mas nos outros. E todos somos chamados a doar a nossa vida porquê vai chegar um dia que a gente terá que entregar tudo (nós não vamos levar nada); então é bom fazer o exercício do cotidiano de ir se doando aos outros naquilo que Deus vai nos pedindo”, disse o bispo em entrevista a equipe da Pastoral da Comunicação (Pascom).

MÁRTIRES

Mais uma vez foram lembrados na Romaria mártires de várias épocas do cristianismo. Desde ‘os inocentes’, meninos abaixo de dois anos, que Herodes mandou matar, na época do nascimento de Cristo (Matheus 2,26), passando por ‘Santo Estevão’, o primeiro discípulo assassinado pela defesa de Cristo (Atos 7,58), até homens e mulheres assassinados mais recentemente pela causa do Evangelho e a defesa dos oprimidos e das minorias.

Entre os vários mártires locais e regionais, da história mais próxima, foram lembrados na Romaria, os padres João Bosco Burnier (morto em 1975) e Ezequiel Ramim (em 1984); Margarida Maria Alves (assassinada em 1983), o bispo salvadorenho Dom Oscar Ramires (abatido durante a celebração de uma Missa) e Irmã Dorothy Stang, morta em 2005, em Anapu, no Pará, quando lutava em defesa dos direitos dos nativos locais.

SURPRESO

Dom Maurício também afirmou ter ficado ‘surpreso’ com o número de presentes a Romaria, especial por se tratar de uma retomada, após três anos sem o evento.

“A minha surpresa é de ver a fé desse povo. Os fiéis que vieram lá de Alto Taquari, Alto Garças, Alto Araguaia, Itiquira. Eu já visitei todas as 22 paróquias da Diocese, então eu sei que é longe. E vendo essas pessoas retornado para casa tão satisfeitas, isso me comove e enche mais meu coração de fé”, finalizou.

TEXTO – NILTON MENDONÇA

PASCOM DIOCESANA

 

 

HOMILIA DE DOM MAURÍCIO JARDIM

Romaria Diocesana dos Mártires – 2023

Mártires: Graça e missão

“Corações ardentes, pés a caminho”(Lc24,32)

Uma Romaria realizada dentro do período quaresmal, já bem próximo da Páscoa de Jesus. Por isso, nossa romaria tem um sentido penitencial que nos convida a conversão. Um convite a mudar a mentalidade e a direção de uma cultura de morte e de guerras. Escolher o caminho da vida plena para todos e todas. Somos convidados a fazer o caminho de Jesus e com Jesus, que foi caluniado, acusado, tentado por Satanás, perseguido, condenado a morte de Cruz, porque assumiu sua identidade de Messias, Filho de Deus. Perdoou pecados e curou em dia de sábado, defendeu a vida humana da concepção até a morte natural, se colocou ao lado dos mais pobres, descartados de seu tempo. Se tornou próximo dos doentes e marginalizados, dos cegos, surdos, mudos, pobres, pecadores e pecadoras.

Uma Romaria realizada dentro do Ano Vocacional da Igreja do Brasil. Vocação: Graça e missão. “Corações ardentes, pés a caminho”(Lc24,32). Este tema e lema nos recordam que a vida missionária é vocação de todos batizados que fizeram a experiência do encontro com Jesus Cristo. A missão é uma questão de fé madura que não fica girando ao redor de si mesmo, mas se coloca a caminho, em movimento permanente. Se o coração não arde, os pés não andam. Andar para onde? O papa Francisco nos indica o caminho das periferias geográficas e existenciais. Lá onde estão os mais necessitados da luz do Evangelho. No dia 21 de março, tive a graça e oportunidade de visitar uma dessas periferias de nossa Diocese. Visitei a Penitenciária Major Eldo de Sá Corrêa, conhecida como penitenciária da Mata Grande nesta cidade de Rondonópolis. Fiquei surpreso com o trabalho de ressocialização dos que cumprem pena. Além de aulas, os internos vivem processos de reeducação, através de cursos de padaria, marcenaria, costura e serigrafia. Agradeço à direção e aos agentes penitenciários que me acolheram e mostraram todos os setores. Na quinta-feira santa, se Deus quiser, irei presidir a Missa com o rito do Lava pés lá na penitenciária da Mata Grande. Recordemos a fase de Jesus. “Tive preso e fostes me visitar” (Mt25,36).

Uma Romaria para recordar os mártires. Qual a identidade do mártir? Não é outra, do que sr um fiel discípulo de Jesus Cristo, que fez de sua vida uma doação total até o derramamento de sangue. Sua vida, suas opções, sua morte e ressurreição inspiram nosso caminho de seguidores do mesmo mestre. São tantos mártires, santos e santas já reconhecidos pela Igreja e outros ainda não reconhecidos, cuja memória celebramos na solenidade de todos os santos e santas, no primeiro domingo de novembro, e hoje nesta Romaria também recordamos. Gosto de pensar também no martírio existencial, do nosso cotidiano. Das pessoas justas, que ganham honestamente o pão de cada dia. Os pais e mães de família. Os jovens estudantes que renunciam tantas coisas para assumir a vida de estudante. Dos doentes e idosos que oferecem seu sacrifício e fragilidades. Dos consagrados e consagradas que silenciosamente dão suas vidas em territórios desafiadores de missão. Dos ministros ordenados que no cotidiano se doam como pastores do Povo de Deus. Também os mártires da caminhada. São tantas pessoas no Brasil que foram mortas por causa da fé e da defesa da vida humana ameaçada. Recordemos com referência e admiração estas pessoas.

Para concluir, voltemos ao Evangelho de hoje que nos apresenta Jesus ressuscitando seu Amigo Lázaro. A presença de Jesus sempre reascende a Esperança em nossas vidas. Como nos disse o Papa na oração do Ângelus de hoje. “As vezes encontramos pessoas sem esperança diante de graves erros, traições ou alguma perda! São momentos em que a vida parece um sepulcro fechado em que só se vê tristeza! Mas é nestes momentos em que Ele se aproxima! Jesus nos convida a não desanimar! Ele se aproxima de nossos sepulcros dizendo: – Tirem a Pedra da Dor, dos Erros, dos Fracassos! Tirem tudo que está dentro! Apresentem a Mim com Confiança e como Lázaro, Ele repete: “- Vêm para fora”! Vá Avante, Estou Contigo! Quantos Irmãos e Irmãs tiram as ataduras! Não devemos ceder ao Medo que Paralisa! É tudo escuro, mas estou com você! Nos momentos difíceis que todos nós passamos! Este Capítulo 11 do Evangelho de São João é um hino à vida, diante de algo que nos esmaga! É hora de remover a pedra e sair ao encontro de Jesus! Continuemos nosso caminho, sem desânimos, com fé, esperança e amor. Sejamos uma Igreja Sinodal, em saída permanente para encontrar e curar os que mais necessitam da luz do Evangelho.

Dom Maurício da Silva Jardim

Bispo de Rondonópolis-Guiratinga/MT

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Com informações: PASCOM – Diocese de Rondonópolis/Guiratinga