Em artigo publicado na edição nº 30 da Revista Bote Fé, da Edições CNBB, o jornalista e doutor em Ciências da Comunicação, Moisés Sbardelotto, fala da convivência nas redes sociais. Ele lançou recentemente o livro “E o Verbo se Fez rede. Religiosidades em Reconstrução no Ambiente Digital”. Com o título, “Por uma casa comum digital”, Moisés inicia o artigo com uma provocação: “Diga-me o que curtes e te direi se vou te odiar”.
Para ele, nas redes sociais digitais e na internet em geral, o ódio vem ganhando cada vez mais espaço, alimentado por superficialismos, fundamentalismos, preconceitos, discriminação e intolerância. “E isso ocorre até mesmo nas relações dentro da própria Igreja”, escreveu destacando ainda que o próprio Papa Francisco já denunciou as “redes de violência verbal” compostas por cristãos e cristãs, que toleram até a difamação e a calúnia (Gaudete et exsultate, GE 115).
O especialista em comunicação lançou duas perguntas em seu artigo: O que fazer, então, diante de tantos haters, de tantos “odiadores” que poluem o ambiente digital? Como educar para a convivência em rede? Para ele, uma primeira resposta é educar para a mansidão humilde. “Felizes os mansos, porque possuirão a terra” (Mt 5,5). Diante da raiva e do ódio, um cristão “evita a violência verbal que destrói e maltrata”, afirma o papa (GE 116).
Para Moisés, nem todos estão realmente dispostos a ouvir e a dialogar, portanto, nem tudo merece resposta. “Às vezes é melhor recorrer a um silêncio ativo e consciente”, disse. O Papa Francisco reconhece que alguém poderia objetar: “Mas, se eu for manso assim, pensarão que sou insensato, estúpido ou frágil”. E ele mesmo responde: “Deixemos que os outros pensem isso. É melhor sermos sempre mansos (…). Reagir com humilde mansidão: isto é santidade” (GE 74).
Por outro lado, adverte o autor, para bem conviver no ambiente digital, é preciso educar para um alegre discernimento. “Não deixe que o joio sempre presente lhe roube a alegria do Reino”, disse o Papa Francisco em sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2018.
O “joio”, segundo o autor, é uma presença constante e inevitável em qualquer ambiente de comunicação. Ele cresce em todo e qualquer terreno (cf. Mt 13,24-30). Nem todo mundo vai concordar ou gostar de nós e dos nossos pontos de vista. “Por isso, não precisamos perder a paz e a alegria quando o ‘joio’ dos haters é semeado nas nossas timelines. Mas podemos, sim, separá-lo do ‘trigo’ da boa comunicação e depois ‘queimá-lo’ na boa e santa indiferença amorosa, como nos ensina Santo Inácio de Loyola (1491-1556)”, reforça.
O autor afirma ainda ser preciso educar para o amor social, que se expressa, segundo Francisco, em “pequenos gestos de cuidado mútuo (…) que procuram construir um mundo melhor” (Laudato si’, n. 231). “Isso se explicita também no estilo próprio de presença cristã no ambiente digital, caracterizado por quatro pilares, segundo o Papa Emérito Bento XVI. Trata-se de uma forma de comunicação honesta (pautada pela verdade e pela coerência); aberta (em diálogo com todas as pessoas, sem exclusões); responsável (com postura ética, assumindo as consequências daquilo que se comunica e do modo como é comunicado); e respeitadora do outro (acolhendo as diferenças e buscando juntos o bem comum)”, enumera.
Ele defende que conviver em rede é tentar construir uma verdadeira “casa comum digital”. “Para isso, é preciso reconhecer em toda e qualquer pessoa do outro lado da tela um irmão e uma irmã, com quem formamos uma única e mesma família humana”.