Tenho 32 anos de idade e seis anos de ministério Presbiteral. Meu desejo de ser missionário surgiu de duas realidades: as Santas Missões Populares e a participação nos encontros missionários. Expressei meu desejo a Dom Vital que se mostrou muito acolhedor em me enviar em missão. Depois de amadurecer a ideia sobre a missão o próprio Dom Vital entrou em contato com Dom Edson Damian bispo da Diocese de são Gabriel da Cachoeira. Fiz um curso de Preparação para missionários em Brasília e vim para a Diocese de São Gabriel da Cachoeira no dia 08 de Agosto de 2014. A Diocese de São Gabriel da Cachoeira é a Diocese mais indígena do Brasil sendo formada por 23 etnias que convivem ao longo do Rio Negro e outros afluentes. 96% da população são indígenas. Aqui os indígenas moram em comunidades e o líder da comunidade é chamado de capitão ou capitã (no caso da líder ser mulher). Nas festas e dias de missas os alimentos são partilhados. Cada família tem sua roça, mas também existem os dias de trabalhar em prol da comunidade que acontece em forma de mutirão (conhecido como ajurí). Diferente das outras regiões da Amazônia o Rio Negro é pobre de peixes, por conta da acidez da água, o que reduz os nutrientes e também os peixes. A vantagem da acidez na água é que não produz muitos mosquitos. A principal atividade pastoral da Diocese está sendo a Catequese Inculturada com o Tema: “A Boa Nova das culturas indígenas acolhe a Boa Nova de Jesus”. O desafio será elaborar encontros de catequese que levem em conta a cultura indígena com a iluminação da Palavra de Deus. O povo que vive aqui é muito acolhedor. Tem muito da vivência comunitária, sabem partilhar a vida e o que possuem. Mas como todo povo e toda cultura tem seus males aqui também há muitos males como: alcoolismo entre jovens, homens e mulheres e muitos casos de violência familiar. Além do português há três línguas oficiais no município: Tukano, Nheengatu e Baníwa. Além dessas línguas oficiais existem também outras 15 línguas que são faladas pelos povos indígenas. Na diocese de São Gabriel da Cachoeira não existe estradas entre as paróquias, sendo todo o transporte por água. Estou na Paróquia São Sebastião no distrito de Cucuí que fica a 250 km de São Gabriel da Cachoeira. Gastamos em média seis horas de “voadeira” (motor 40hp) de Cucuí a São Gabriel. Cucuí é um distrito que está na tríplice fronteira de Brasil, Venezuela e Colômbia. Quase todas as pessoas falam Português, Espanhol e Nheengatu. O Nheengatu é uma variação da língua Tupi-guarani falada por diversos povos indígenas do litoral brasileiro, que foi sistematizada por missionários jesuítas e levada a outros povos indígenas do Brasil como uma língua de comunicação pan-indígena. A paróquia é formada por 20 comunidades que estão às margens do Rio Negro e outro afluente o Rio Xié. A maioria do povo em Cucuí pertente a etnia Baré, mas têm também pessoas das etnias Warekena, Baníwa, Tukano e Piratapuia que se misturaram através de casamentos e alianças entre as etnias. Ser missionário é seguir Jesus que foi amigo dos pobres e dos excluídos que iniciou uma Igreja pobre para os pobres, como deseja o nosso Papa Francisco. É estar preparado para dar a vida em favor dos irmãos seguindo Jesus que deu a vida para salvar a humanidade. O grande desafio missionário é conhecer a cultura e os costumes e evangelizar a partir desta realidade cultural. Estando aqui você percebe que há mais coisas a apreender e pouco ou nada a ensinar.
Pe. João Brito de Oliveira Presbítero da Diocese de Diamantino – MT
Missionário na Diocese de São Gabriel da Cachoeira – AM