O pregador da Casa Pontifícia, cardeal Raniero Cantalamessa, conduziu as duas primeiras reflexões quaresmais à Cúria Romana. A primeira foi no dia 3 de março, com o tema “Renovar a novidade”, e a segunda uma semana depois, em 10 de março, intitulada “O Evangelho é poder de Deus para todo aquele que crê” (Rm 1,16).
Serão cinco pregações no caminho quaresmal com o intuito de, segundo o cardeal, “encorajar-nos a pôr o Espírito Santo no coração de toda a vida da Igreja, e, em particular, neste momento, no coração dos trabalhos sinodais”. Cantalamessa resume no acolher o convite urgente que o Ressuscitado dirige, no Apocalipse, a cada uma das sete igrejas da Ásia Menor: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Ap 2,7).
Renovar a novidade
Na primeira pregação, ele iniciou recordando o atraso e a recusa por parte da Igreja em se dar conta das mudanças ocorridas na sociedade, no final do século XIX e o início do século XX. E que o Concílio Vaticano II foi a iniciativa profética para recuperar o tempo perdido, inaugurando o método “de caminhar na história, ao lado da humanidade, buscando discernir os sinais dos tempos”.
O pregador citou Orígenes, para quem “é preciso renovar a própria novidade”, e Santo Irineu, que escrevera que a “verdade revelada é ‘como um precioso licor contido em valioso vaso. Por obra do Espírito Santo, ela rejuvenesce continuamente e faz rejuvenescer também o vaso que a contém’”.
O cardeal explicou que o “vaso” que contém a verdade revelada é a tradição viva da Igreja, o ‘precioso licor’ é a Escritura, e Espírito Santo é, pela sua natureza, novidade.
As referências bíblicas da pregação serviram para “acolher a lição que nos vem da Igreja nascente”. O cardeal refletiu como o Espírito Santo guiou os apóstolos e a comunidade cristã a dar os primeiros passos na história.
“Os Atos dos Apóstolos nos mostram uma Igreja que é, passo a passo, ‘conduzida pelo Espírito’. A sua guia se exerce não apenas nas grandes decisões, mas também nas coisas de menor importância”.
A íntegra da primeira pregação pode ser lida aqui.
Evangelização
A segunda pregação foi dedicada à Evangelização, intitulada “O Evangelho é poder de Deus para todo aquele que crê”. O cardeal recordou que para o sucesso de todo novo esforço de evangelização, é vital ter claro o núcleo essencial do anúncio cristão, trazido pelo apóstolo nos primeiros três capítulos da Carta de São Paulo aos Romanos.
“A mensagem do Apóstolo naqueles três primeiros capítulos da sua Carta pode ser resumida em dois pontos: primeiro, qual é a situação da humanidade diante de Deus em seguida ao pecado; segundo, como se sai dela, isto é, como nos salvamos pela fé e nos tornamos nova criatura”.
A atualidade da mensagem do Apóstolo está no remédio que o Evangelho propõe à situação do pecado. “Ele não consiste em se empenhar em uma luta pela reforma moral da sociedade, para a correção dos seus vícios”. A evangelização, dessa forma, não começa com a moral, mas com o querigma. “Na linguagem do Novo Testamento, não com a Lei, mas com o Evangelho”.
“E qual é o conteúdo, ou o núcleo central disso? O que Paulo quer dizer por ‘Evangelho’ quando diz que ele ‘poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê’? Crer no quê? ‘Manifestou-se a justiça de Deus!’ (Rm 3,21): eis a novidade. Não são os homens que, improvisamente, mudaram vida e costumes e se puseram a fazer o bem. O fato novo é que, na plenitude dos tempos, Deus agiu, rompeu o silêncio, estendeu a sua mão por primeiro ao homem pecador”.
Da leitura da carta aos Romanos, o cardeal recorda que Paulo diz o remédio às situações de pecado está em acolher “a redenção em Cristo Jesus”. A palavra diz à Igreja, complementa, “que é preciso recomeçar a partir da pessoa de Cristo, falar dele ‘oportuna e inoportunamente’; jamais dar por certo, ou pressuposto, o discurso sobre ele. Jesus não deve estar no pano de fundo, mas no coração de todo anúncio’”.
Em seguida, traz da exortação apostólica Evangelii gaudium o convite do Papa Francsico a “renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de O procurar dia a dia sem cessar”.
Este modo de conceber a fé, do encontro pessoal com Cristo, “nos parece, antes, o único possível desde quando a fé não é mais um fato pressuposto que se absorve quando crianças com a educação familiar e escolástica, mas é fruto de uma decisão pessoal”, afirmou.
“O sucesso de uma missão não pode ser medido pelo número das confissões ouvidas e das comunhões distribuídas, mas de quantas pessoas passaram de ser cristãos de nome a cristãos reais, isto é, convictos e ativos na comunidade”, disse Cantalamessa.
A íntegra da pregação pode ser lida aqui.
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Com informações: cnbb.org.br