Dom José Alberto Moura
Arcebispo Metropolitano de Montes Claros (MG)
O rei Davi cometeu um grave pecado, o de mandar matar Urias e ficar com sua mulher. O profeta Natã, recebeu a incumbência divina de lhe dizer sobre as conseqüências morais e sociais de sua insanidade. No ato o monarca reconheceu o grande pecado e se arrependeu. O emissário de Deus comunicou-lhe o perdão divino, mas com a penalização suficiente para a aprendizagem de não incorrer novamente em delito semelhante (Cf. 2 Samuel 12,7-13)
Se Deus se vingasse de nós estaríamos perdidos. Ele está sempre disposto à misericórdia. Sua justiça é diferente da nossa. É misericordiosa. Isso não significa deixar-nos continuando a cometer erros e pecados. Exige conversão, arrependimento e manifestação de amor, apesar de o pecador ainda estar sujeito aos próprios erros. A nossa justificação depende do amor divino, que espera sinal de nossa vontade em também nos esforçar para tentarmos corresponder ao amor infinito de Deus.
Mas o amor divino sempre exige uma hipoteca ou um compromisso nosso: o de também amarmos o semelhante. É o que Jesus nos ensina na oração do Pai Nosso: perdoai-nos, como também perdoamos. Em relação ao semelhante, de ambas as partes o arrependimento das falhas é fundamental para que a humildade seja uma atitude que leve cada um a reconhecer que não é superior ao outro. Somos todos pecadores e precisamos de nos entender e converter para um convívio de irmãos. Até na família mais tranquilha existem momentos de fragilidades e atitudes de incompreensões. Por isso, é preciso haver paciência, compreensão, correção e perdão. Qual pai ou mãe que não quer o bem dos filhos e até perdoa suas falhas? A correção com amor inclui a formação para o arrependimento e mudança de atitudes. O bem do outro é promovido na correção caridosa para seu futuro melhor!
O fingimento de estar arrependido só para levar vantagem, de qualquer tipo, não leva à credibilidade de quem o faz. Com o tempo o que é oculto vem a ser revelado, mais cedo ou mais tarde, até na justiça humana. O arrependimento verdadeiro leva a pessoa a mudar realmente de vida e se pautar por um caminho adequado a se assumirem valores éticos e morais.
Todo delito deve ter sua penalização, para a pessoa se treinar na nova modalidade de conduta. Mas tal pena deve ser educativa e corretiva. Na aplicação das leis civis muitas vezes a penalização é vingativa e não corretiva, como vemos no sistema carcerário. É preciso haver mudança radical nesse sistema, que, às vezes, se torna escola de pós-graduação em maior criminalidade!
Jesus mostra como se deve agir com a pessoa pecadora que se arrepende. Ele foi tomar refeição na casa de um fariseu. Ali u’a mulher pecadora banhou seus pés com as lágrimas, enxugou-os com seus cabelos e neles colocou perfume. O homem que o hospedava conhecia a pecadora e pensou que o Mestre, se fosse mesmo profeta, saberia quem era a mulher e não a deixaria fazer o que estava realizando. Mas Jesus provou-lhe que, sim, ele bem sabia e desafiou-o a se pronunciar sobre quem mais amava: quem tem mais culpa e recebe o perdão ou quem de menos culpa? (Cf. Lucas 7,36-45) À resposta óbvia do fariseu Jesus replicou: “Você não me ofereceu água para lavar os pés e ela o fez com suas lágrimas e os enxugou com seus cabelos… Aquele a quem se perdoa pouco mostra pouco amor!”(Lucas 7,44).
Nós nunca perdemos nada em nos arrepender das falhas, tentando corrigi-las. Sabemos que disso vêm as conseqüências benéficas para nós e para os outros. Sabemos que podemos contar com a graça de Deus e também com a compreensão do semelhante!