Neste final de semana, em Aparecida, Capital da Fé, acontece a grande Assembleia da Academia Marial. É um evento comemorativo. Quero cumprimentar por esse momento, e utilizar os textos publicados no jornal Santuário de Aparecida, que dedicou toda a sua edição nº. 5.757, de 12 de julho de 2015, para tratar da comemoração do trigésimo aniversário dessa Academia. Ela nasceu em 16 de julho de 1985, pela ação do Arcebispo Dom Geraldo Maria de Morais Penido, grande perito em Mariologia, por ocasião do Congresso Eucarístico Nacional celebrado na “Casa da Mãe”. Foi o início de um novo tempo no estudo da Mariologia (disciplina que trata da pessoa e das prerrogativas de Nossa Senhora) em nosso país.
Trinta anos se passaram e, agora, é hora de relembrar o passado, comemorar o presente e planejar o futuro desta importante instituição de nossa Igreja, hoje sob a direção do meu amado irmão, o Eminentíssimo Senhor Cardeal da Santa Igreja Romana, Dom Raymundo Damasceno Assis, sob a supervisão da Congregação do Santíssimo Redentor, mais popularmente conhecida por Congregação dos Redentoristas, fundada por Santo Afonso Maria de Ligório (1696-1797), ele mesmo grande devoto da Mãe de Deus e nossa mãe (cf. Jo 19,26-27) e autor de várias obras mariológicas, dentre as quais se sobressai o livro As glórias de Maria (Ed. Santuário, sucessivas edições).
Ora, é certo que o Pai legou a todos os Seus filhos um amor verdadeiro a Virgem Santíssima; amor não voltado a devoções superficiais e até supersticiosa, mas, sim, à verdadeira devoção a Nossa Senhora, como a Igreja ensina. Isso requer piedade, mas também estudos. Eis uma das funções da Academia: ajudar no melhor conhecimento d’Aquela que Deus escolheu para ser a Mãe do seu Filho.
Esse parece sempre ter sido o objetivo desta gloriosa instituição no dizer de seus diretores, dentre eles, o Pe. Ademir Bernardelli, agora servindo na Diocese de Amparo, SP, ao afirmar que “a Academia desenvolve a formação dos cristãos para que conheçam melhor a pessoa e a missão da Mãe de Jesus na história da salvação, esclarecendo a sua presença nos dogmas, na liturgia e nos diversos títulos. Promove diálogo ecumênico e interreligioso para estudar e aprofundar o mistério, o significado e o papel de Maria na Igreja e na vida pessoal de cada um”.
No entanto, é preciso ressaltar, ainda como o mesmo ex-diretor, que, embora tenha o título de Academia Marial, pois visa a formar pessoas especializadas no conhecimento de Maria, o trabalho não se volta apenas, nem somente a estudiosos ou teólogos, mas, sim, a todo o Povo de Deus que se interessa por Nossa Senhora e quer ajudá-la a ser mais conhecida e amada pelo Brasil e pelo mundo afora. (Hoje a Academia tem muitos associados também no Exterior).
É de se pensar que os sócios da Academia Marial – colaboradores da maior difusão do nome de Maria – sempre cumprem duas passagens bíblicas muito importantes: uma é a que diz: “Todas as gerações hão de chamar-me de Bem-aventurada”. (Lc 1,48), e a outra é a de que quem fala da Mãe, divulga o nome do Filho, Jesus Cristo, Nosso Senhor, centro de nossa fé, para quem Ela mesma aponta, dizendo: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. (Jo 2,5).
Essa nobre missão a Academia cumpre em seus congressos, exposições, artigos científicos ou populares, e livros publicados com a intenção de chegar ao maior número possível de pessoas. E há dúvidas na mente de não poucos homens e mulheres a respeito da Mariologia. Sim, muitos questionamentos sadiamente curiosos ou até não muito bem intencionados surgem entre o povo e requer esclarecimentos claros e precisos, a fim de que a fé seja mais adulta e madura, ultrapassando a importante, mas não suficiente catequese infantil. Tudo isso, claro, sempre dentro das verdades professadas pela Igreja com seu magistério ordinário e/ou extraordinário (cf. Catecismo da Igreja Católica n. 889-892).
Voltando, porém, à Academia Marial, dizemos que ela tem realizado, nos últimos anos, o Congresso Mariológico, mais de estudos (o IX será de 10 a 13 de setembro deste ano, com o tema: Iconografia de Aparecida: a teologia da imagem), e a Assembleia dos Associados, mais em nível geral. No entanto, é preciso ainda maior divulgação nos meios universitários e religiosos, dizem os ex-diretores, pois, embora haja quem escreva livros, artigos, poesias sobre Nossa Senhora – e isso engrandece o trabalho mariológico –, é necessário maior acesso às universidades e organizações religiosas com vistas à ampliação desse rico trabalho evangelizador.
Contudo, até julho de 2015, esta instituição já havia computado em seus quadros 400 sócios, sendo 272 homens e 128 mulheres: 3 cardeais, 17 bispos, 86 padres, 6 irmãos, 7 irmãs, 4 diáconos, 1 frater, 5 cônegos, 5 frades e 262 leigos e leigas; o maior congresso foi em 2012, com 187 participantes; o ano de 2013 deu ao jornal Santuário 52 artigos; a Biblioteca, obviamente especializada em Mariologia, chega a 2.877 obras e, no ano de 2014, os estudiosos forneceram, virtualmente, ao povo 356 homilias.
Relembrando um pouco da história, vale dizer que o fundador e primeiro diretor da Academia Marial foi um sacerdote diocesano que, nascido em Campinas, em 1918 e ordenado em São Paulo, em 1941, atuou em Campinas na vida pastoral e magisterial na PUC-Campinas de 1969 a 1980. Naquele ano, foi a Aparecida, acolhido por Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, então Cardeal Arcebispo de Aparecida, a fim de trabalhar na formação de seminaristas diocesanos, aí permanecendo até 1998. Foi nessa sua longa atuação na “Terra da Padroeira do Brasil” que o Pe. Machadinho, como era conhecido, fundou, em 1985, na Torre Brasília (do Santuário Nacional), a Academia Marial de Aparecida (AMA), por ele dirigida até sua saída do cargo em 1998, ano em que retornou a Campinas, diocese na qual morreu cônego, e a Academia passou às mãos dos Redentoristas.
Devoto de Nossa Senhora, especialmente sob o título de Aparecida, escreveu, em 1975, o volumoso livro Aparecida na história e na literatura. Deixou escrito à Mãe do céu os seguintes dizeres: “Em teu coração, Trono de Deus, deixa que eu deposite o ramalhete de minha gratidão. São flores do Brasil. Desejo-te sempre mais glorificada nessa abençoada Pátria. Que todos reconheçam o suave império do teu amor materno. E do teu manto não me deixes afastar. Guarda-me, embora indigno, porque sou para sempre o teu pequenino servo, João, por mercê de Deus, Sacerdote…” (Pe. Valdivino Guimarães, CSsR. Diretor da Academia Marial de Aparecida. Santuário, 12/07/15, p. 4. A).
Para concluir esta reflexão, cito o Padre José Fernandes de Oliveira, SCJ, o conhecido Padre Zezinho, que assim escreve a propósito do culto de adoração (latria) a Deus Uno e Trino e de veneração (dulia) aos santos e às santas da Igreja. Nesse culto, a Virgem Maria ocupa lugar especial e é venerada com o culto de hiperdulia, que, de modo algum, toma o insigne lugar de seu Filho Jesus, Deus feito homem por amor de nós. Diz o padre: “quando vejo as igrejas que desrespeitam Maria e alguns católicos que exageram na sua devoção por ela, penso na importância da catequese mariana. Maria foi a primeira a não aceitar louvor excessivo ao proclamar-se a serva do Senhor. Mas foi ela também, segundo Lucas o diz, que cantou o canto de Ana, mãe de Samuel. E foi também ela quem disse que, sempre segundo o evangelista, ela seria louvada por causa do seu filho. É como se disse: – Sou quem sou por causa do filho que gerei, e serei quem serei por causa do meu filho. Façam o que Ele mandar. Sigam os passos dele e não os meus”.
“Imaginemos Maria dentro desta perspectiva. Onde o filho for lembrado ela será lembrada. Onde ela for lembrada, o filho será lembrado. Ele adorado, e ela venerada, porque Ele é Deus e ela não é deusa. Mas entre os humanos e as humanas, depois de Jesus nunca houve ninguém mais ligada a Ele”.
“Fique claro para todos os que amam Maria que ela sabia o seu lugar. João Batista sabia. Os apóstolos aprenderam a saber. E Jesus deixou claro que todos eram chamados a fazer unidade com ele. Maior unidade com Jesus do que o ventre e o coração de Maria não houve. De Jesus, Maria entende. De Maria, Jesus entendeu. O diálogo dos dois era claro e maduro. Nem Ele deixou de ser filho e nem ela deixou de ser mãe. E a nós compete aprender que nem Jesus deixará de nos chamar e nem nós devemos deixar de chamá-lo”.
“São mais de trezentos nomes. Talvez mais de mil dedicados a Maria no mundo inteiro. E tudo decorre no nosso amor pelo seu Filho. É impensável que algum cristão ame Maria mais do que ame Jesus. Mas também é impensável que um cristão, não importa de qual Igreja, diminua o seu respeito por Maria por causa do seu suposto amor incondicional por Jesus. Um amor não exclui o outro. Amamos Jesus e por causa disso amamos Maria, e amamos Maria porque amamos Jesus”. (Santuário, 12/07/15, p. 3).
Possamos nós também querer aprender mais e mais sobre Maria, que nos leva a seu Filho Jesus Cristo, nosso Salvador, ou o nosso Santíssimo Redentor, como gostava de repetir Santo Afonso Maria de Ligório. Para isso precisamos, antes de tudo, rezar com amor redobrado ao Senhor Jesus e a Sua Mãe Santíssima, mas também, se possível, e isso é importante, recorrer ao aprendizado.
Aí está, pois, a Academia Marial de Aparecida (por e-mail: academia@santuarionacional.com) a acolher pessoas de qualquer lugar do país ou do exterior. Também a Arquidiocese do Rio de Janeiro ajuda-nos a conhecer melhor Nossa Senhora por meio do Curso de Mariologia, escrito por Dom Estêvão Bettencourt, OSB, e divulgado pela Escola Mater Ecclesiae (Fone (21) 22424552 ou pelo site: www.materecclesiae.com.br).
Parabéns à Academia Marial de Aparecida pelos seus 30 anos! Que dê muitos frutos para o nosso povo de Deus, agora e sempre!
Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro-RJ