O racionamento de água já atingiu o cotidiano de habitantes de cidades importantes do Brasil, como São Paulo e Brasília. Além da má distribuição dos recursos hídricos e dos problemas de gestão no território nacional, a escassez de água também perpassa pela má utilização dos bens naturais do país, adverte o assessor de Pastorais Sociais e Movimentos Sociais, Roberto Malvezzi (Gogó): “Hoje com a degradação, principalmente do bioma Amazônico, o ciclo das águas encontra-se comprometido”. Também é sabido que nos últimos anos, o país perpassa por uma seca sem precedentes, onde os níveis de precipitação ficaram muito abaixo do esperado e, por consequência, os reservatórios de água mantiveram baixas históricas.
Brasília, a capital do país, recentemente sofreu os impactos do racionamento. Apesar do retorno da chuva, nesta época de fim de ano, os dois reservatórios que abastecem a cidade continuam com índices abaixo dos 40%. A medição feita pela Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento (Adasa), no último mês, mostra que a barragem do Descoberto operava com menos de 20% de sua capacidade, enquanto o de Santa Maria registrava uma marca de 29,7%. Dado a preocupação da situação, os moradores entraram em um esquema de racionamento que as vezes atravessa 48 horas de interrupção de abastecimento.
O choque já é sofrido por todos. Bruno Feitosa, por exemplo, morador de um apartamento no Plano Piloto, área nobre da capital do país, explica que a interrupção do serviço na região é feita de um dia para o outro. Para dar conta de fazer suas atividades diárias, ele comprou um galão de água de 60 litros, que dura dois dias. “Hoje mesmo eu cheguei atrasado no trabalho, pois estava esquentando a água para tomar banho. Fico até de mau humor quando não tem água”, conta. A Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) é responsável por divulgar o calendário do racionamento no Plano Piloto e nas cidades satélites.
Perspectivas e reversão – Roberto Malvezzi (Gogó) explica que grande parte do comprometimento do ciclo da água está ligado a destruição das florestas. No Brasil, especialmente com a exploração da Amazônia e do Cerrado, onde estão os maiores aquíferos do país, houve a perda da capacidade de se produzir água. Além disso, o assessor afirma que o uso sobrecarregado dos sistemas de irrigação influenciou também no cenário.
Para ele, a reversão da situação não é fácil e nem simples porque, do ponto de vista biológico, implica numa questão estrutural. “Tudo começa pela recomposição florestal do território das nossas bacias. Precisamos manter a floresta amazônica em pé e recuperá-la porque ela já foi degradada, significa preservar o que tem em pé e tentar preservar e recuperar o que seja possível no Cerrado, e isso é um trabalho de longo prazo”, garante.
Ainda segundo o assessor todo esforço é válido para que se possa garantir a preservação da natureza e dos recursos hídricos. “Muitas comunidades estão fazendo a recuperação das nascentes, dos rios, das matas ciliares, mas é muito pouco ainda diante do que nós necessitamos”, afirma. Para o próximo ano, a expectativa é que com a volta das chuvas a população sofra menos com a crise hídrica, embora não traga impactos imediatos. “A cheia nos reservatórios é um alívio, porém ainda não é a solução dos nossos problemas”, finaliza o assessor.