Às 22:30 horas do dia 8 de fevereiro de 2019, faleceu no hospital Regional, em Rondonópolis, Pe. Martin Peter Huthmann, pioneiro da diocese de Rondonópolis-Guiratinga. Pe. Martin Peter Huthmann nasceu no dia 27 de dezembro de 1931 em Offenbach – Main – Alemanha, filho de Dr. Pihlipp Huthmann – Com a profissão: Perfumista, e sua mãe Anna Maria Oster – Vereadora – filha de um médico.
Em 1934 mudou-se para Hildesheim, onde teve primeiros contatos sobre Adolf Hitler. De 1936 a 1943 foi um tempo decisivo já morando em Berlim, capital da Alemanha. Nesta época a Igreja estava ao lado da caserna das tropas especiais de Adolf Hitler (SS). O vigário da paróquia foi preso pelos nazistas, os judeus que moravam na mesma casa alguns conseguiram fugir e outros foram mortos. Em 1941 o menino Martin fez a 1ª Eucaristia e decidiu no seu coração só servir a Jesus e não “aos seus inimigos”. Com 4 anos de idade cursou a 1ª série escolar, escolheu uma escola onde podia aprender Grego e Hebraico.
Em 1941 com sua Primeira Eucaristia na Paróquia HL Familie, e com esta catequese nasce à vocação presbiteral em confronto com a caserna de guardas costas (SS) de Hitler. Houve várias tentativas de “Hitler-Jugend (Juventude Hitler)” “de me puxarem para o lado deles”, afirma.
De 1943 a 1949 a família fugiu para um lugar afastado (Pommem) por causa dos bombardeamentos em Berlim. Em janeiro de 1945 mais uma fuga por causa da chegada do exército russo. Foram anos com muita fome. Ao fim da guerra, mudaram para a cidade de Colônia onde seu avô ainda tinha uma casa não destruída pela guerra.
O menino Martin por quatro vezes teve que mudar de escola no 2º grau. Em 1949 foi a transferência definitiva para Bavária – Memmingen. Em 1951, a formatura após nove anos de 2º grau.
De 1952 a 1958 fez os estudos de Teologia e Filosofia em Munique e Bonn – Bensberg, Durante este tempo trabalhou nas minas de carvão, na construção civil, nas fabricas de automóveis… Como trabalhador engajou-se com os jovens e em 24 de fevereiro de 1958 foi ordenação sacerdotal na Catedral de Colônia, Alemanha, pelo arcebispo Frings que fundou “Misereor”. Para esse dia de ordenação escreveu a seguinte oração:
-Ó Deus bom e clemente Pai do teu Filho Unigênito dai aos teus presbíteros inteligência, conhecimento e um coração bom.
– Venha sobre eles o Espírito Divino para que guardem o teu povo pronunciem tua palavra divina e reconciliem teu povo Contigo.
– Do Espírito que pousava sobre Moisés na tua graça Tu deixastes descer espírito santo
sobre os escolhidos.
– Do Espírito do teu Unigênito enviai aos teus presbíteros o Espírito Santo para que com consciência pura possam servir a Ti.
De 1958 a 1961 foi vigário numa paróquia de Bonn. De 1962 a 1971 foi Capelão na marinha alemã percorrendo os vários países da OTAN. Tinha que acompanhar mais ou menos 20 destroier com uma tripulação de 240 soldados. Esse serviço o fez por sete anos acompanhando os marinheiros no mar. Nas celebrações da missa em alto mar tinha em média tinha 5 pessoas na missa de domingo.
De 1972 a 1982 volta para a Igreja em Bonn como vigário dos estudantes na Universidade de Bonn, quando teve os primeiros contatos pelas comunidades da América Latina. Oscar Romero e Dom Helder Câmara foram luz em seu caminho. NO espirito do Concílio Vaticano II e inspirado pelas comunidades na América Latina os estudantes quiseram mais participação ativa nas comunidades. A pergunta foi: Como nós, do primeiro mundo podemos viver a solidariedade com a Igreja pobres do terceiro, especial a América Latina? Eu vivia numa velha detenção para mulheres com 36 quartos, devíamos tudo reconstruir. Nossa luta foi contra o capitalismo, promovemos o movimento da paz e buscamos uma liturgia, que toca o coração da juventude. Isso descontentou católicos conservadores e também o bispo que em 1982 “ele me afastou do meu cargo e acabou com a comunidade dos estudantes”. Tempo difícil.
De 1983 a 1998, numa reunião internacional da Fraternidade Presbiteral Jesus Caritas, fundada em 1951 por Charles de Foucauld, num encontro internacional na Argélia. Fomos eu e o Pe. Günther. Na ocasião padre Gunther foi eleito como responsável internacional, porem solicitou a autorização a Dom Osório, que só liberou padre Gunther se alguém de nosso grupo ajudasse na Diocese. Eu me prontifiquei para ir. E a diocese de Colônia me deixou ir para o Brasil sair.
Pe. Martin entrou no Brasil como turista no mês de outubro de 1983, ainda regido pelas leis da ditadura militar que dificultava a entrada de missionários estrangeiros e assim podia ficar somente por 90 devido não ter visto permanente. Então foi para o Paraguai, Bolívia, e sempre depois de 90 dias voltava para a Alemanha e de lá novamente voltava para o Brasil como turista. Foi um migrante aqui no Brasil, tinha bastante dificuldade em aprender o português, ninguém o entendia e ele também não entendia ninguém, nessa época ele tinha 53 anos de idade. O visto permanente só saiu depois de sete anos aqui no Brasil.
Alguns pensamentos e frases que Pe. Martin nos deixa:
Escreveu por ocasião de seu 50 anos como padre: “Faz agora 40 anos que o bom Deus me guardou fiel no meu ministério. Uma grande parte deste tempo eu sou padre no meio de vocês. Cheguei em outubro de 1983 em Jaciara, farão 15 anos.
Quero celebrar este dia junto com vocês. Por isso convido representantes de cada comunidade para o dia 24 de fevereiro a partir das 15 horas na Comunidade Nossa Senhora Aparecida. Conto com mais ou menos 20 pessoas por comunidade. Se a comunidade quer trazer um presente, prepare um pequeno lanche, que nós vamos partilhar. Por favor, nenhuma outra coisa. Seria uma grande alegria se a comunidade pudesse apresentar a sua própria comunidade através de um canto, teatro, fotos, cartazes, símbolos, ou dança, pois é carnaval para dar uma ideia da vida da comunidade. Não quero celebrar só a minha pessoa, quero celebrar a vida das comunidades. O padre está a serviço das comunidades. Nós somos parceiros como num matrimônio.
Às 18 horas nós juntos com o Bispo e os Padres da Diocese vamos celebrar a Eucaristia (sem fotos, filme ou palestras). Nesta ocasião agradecemos o nosso Bispo Dom Osório por seu serviço carinhoso na Diocese e na nossa Paróquia. E após a missa haverá uma pequena janta. Cada comunidade deverá buscar até 10 de Fevereiro fichas para espetinhos e bebidas na Secretaria. A alegria de Deus é a nossa força!
Em fevereiro de 2008 celebrou seus cinquenta nos como presbítero e em fevereiro de 2018 celebrou os 60 anos como presbítero. Hoje está com 61 anos como padre. Após 61 anos como presbítero e 36 anos servindo a Diocese de Rondonópolis-Guiratinga, como Pároco na Paróquia São Francisco de Assis em Jaciara, no dia 03 de março de 2007 entregou a sua missão de pároco e continuou a missão como vigário paroquial e exercendo seu serviço na AEMA, na cadeia, nas comunidades e na formação bíblica. Encontra-se nos seus escritos: Todo dia a Igreja reza: “quarenta anos desgostou-me aquela geração…. será que eles entram na terra prometida?” Será que Deus vai falar isto para mim também? Eu celebro este dia para o louvor ao Pai no céu por tantas maravilhas que ele fez conosco.
O que caracterizou Pe. Martin:
– Foi um padre pobre, despojado no seu modo de ser e vestir,
– Teve presença constante com os presos e sem terra, sem teto,
– Permanente valorização das comunidades eclesiais,
– Animado no estudo da Palavra de Deus e sua divulgação, vivencia nas comunidades e nas Pastorais,
– A defesa da ecologia através do AEMA (Associação Ecológica e Meio Ambientalista).