Dom Neri José Tondello, o bispo de Juina (MT), concedeu entrevista ao portal da CNBB. Igreja particular que encontra-se a 1.500 kilômetros de Manaus (AM) e 1.200 de Porto Velho (RO), a diocese de Juína possui onze etnias de povos diferentes e duas etnias isoladas. Estas características tornam a diocese, segundo o seu pastor, como a mais Amazônica do Mato Grosso. Para o bispo, que também integra a Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o Sínodo tem que significar “uma reconciliação da Igreja com a Amazônia” e isto se faz com a ampliação de uma Igreja ministerial, samaritana e servidora na região. No sentido que aponta o conceito de ecologia integral em sua compreensão como algo que diz respeito à convivência, à justiça, aos direitos humanos, à realidade política, econômica, social e cultural e à biodiversidade no seu conjunto. “Ecologia Integral se trata de Casa Comum, casa de todos”, defendeu. O religioso acredita que o Sínodo abriu um grande debate sobre o modelo de desenvolvimento que está implantado no mundo, por isso tamanha repercussão. Em sua avaliação, o Sínodo, por si só, vai ajudar a humanidade a repensar sua relação com a natureza. Veja a íntegra da entrevista.
O que o senhor espera levar do Sínodo para sua diocese?
O debate é muito amplo porque quando se trata de ecologia integral nós estamos olhando para a realidade dos povos originários, sejam eles os primeiros, os povos indígenas, os ribeirinhos, os quilombolas, os assentados e outros em clima de convivência, de respeito, mas também sobretudo de povos que precisam ser levados em conta em seus direitos humanos e naturais. Por isto, a ecologia integral leva em conta exatamente a convivência dos pobres com a natureza, procurando obedecer o ritmo da natureza, para que ela seja sempre uma companheira dos pobres. E que a intervenção dos povos à natureza não seja tão agressiva a ponto da própria natureza se vingar do próprio homem. Ecologia integral diz respeito à convivência, à justiça, aos direitos humanos, à realidade política, econômica, social e cultural e à biodiversidade no seu conjunto. Por outro lado, nós estudamos a realidade de novos caminhos para a Igreja e aqui está uma expectativa muito grande. O assunto está em andamento. Nesta semana trabalhamos, damos as últimas colaborações, fizemos retificações e apresentamos outras propostas e está em processo de reelaboração pela equipe de redação final. No sábado ele será apresentado e votado e então teremos a realidade de como vai chegar ao final do Sínodo. Depois de votado, vamos ver se teremos um texto publicado ou se o Papa aguarda para ver se vai emitir seu posicionamento por meio de uma exortação apostólica ou encíclica mesmo. Por hora, não temos as conclusões. Estamos no auge do amadurecimento e afunilamento das conclusões finais. Vamos aguardar um pouco para que nossa Igreja na Amazônia possa ser atendida uma vez que a realidade dos povos, com seus clamores, foi ouvida. A diocese de Juína (MT) costumo defini-la como uma diocese de periferia. Se encontra a 750 kilômetros de Cuiabá, a 1.800 de Brasília, 1.500 de Manaus e mais ou menos 1.200 kilômetros de Porto Velho, uma região no Noroeste no Estado do Mato Grosso que faz divisa com o Estado do Amazonas e com o Estado de Rondônia. Por isto, a diocese de Juína é considerada a diocese mais indígena do Estado do Mato Grosso. Temos onze etnias de povos indígenas, 2 etnias de povos isolados, 27 assentamentos, várias comunidades de povos ribeirinhos. Esta é a realidade que se constitui na nossa região diocesana. Por isto, para atender melhor achamos que o Sínodo tem que ser uma reconciliação da Igreja com a Amazônia e por isto se faz necessário que ampliemos a nossa presença na Amazônia por meio de ministérios. Tornar nossa presença toda ministerial, samaritana e servidora.
Como deve ser a divulgação do documento final do Sínodo?
Duas questões são importantes. Primeiro, existe uma equipe de comunicação que vai obedecer às ordens da relatoria final que cabe ao presidente o cardeal Claudio Hummes, o arcebispo emérito de São Paulo. Ali está concentrada a resposta final do que vai vir como documento. Se vai ser publicado, não sabemos ainda. Ainda estamos em fase de construção. Foram apresentadas ontem mais de 1.000 ementas. A equipe que está analisando e reconstruindo o texto. Não sabemos como vamos apresentar. Essa equipe está sob o comando da Cristiane Murray que é brasileira.
Quais são os resultados desse Sínodo até aqui depois de quase três semanas de trabalho?
Outra coisa que podemos afirmar desde agora, independente do resultado das conclusões do relatório final, podemos dizer que o Sínodo por si já deu um grande resultado. Mesmo que tenha sido divulgado de maneira resistente e até contrária, mas o Sínodo de verdade vai trazer grande benefício à humanidade e à Igreja. E esta é sua missão. Certamente podemos dizer que o Sínodo está ajudando a pensar a humanidade, dentro da Igreja mas não só. O Sínodo é para o mundo também. Ecologia Integral se trata de Casa Comum, casa de todos. E por isso, já vimos muitas ações concretas de gente que não tinha consciência e se portava de um jeito; E agora em relação à natureza já temos muitas iniciativas que começam a se implantar. O benefício é muito grande. Imagina 250 pessoas numa mesma sala. Um escutando o outro, opiniões diferentes, científicas, análises, propostas, sugestões… Isto tudo, evidente que vai trazer uma nova cultura, inclusive em relação ao meio ambiente. Então, independente do resultado escrito, final, já temos um resultado muito grande e muito positivo. Certamente nossas relações com a economia, com a natureza, com os direitos humanos, entre nós mesmos, com povos diferentes, com a biodiversidade e a nossa maneira de ver as coisas já não são a mesma. O Sínodo que abriu um grande debate sobre o modelo de desenvolvimento que está implantado no mundo, por isso tamanha repercussão. Vai ajudar a humanidade a repensar sua relação com a natureza. De um jeito ou de outro, fomos afetados por aqueles que divulgam o Sínodo de um jeito certo ou com outras posturas porque faz parte da liberdade mesmo de imprensa. O Sínodo já trouxe e vai trazer grandes benefícios para a humanidade, para a evangelização, para a catequese, para a liturgia, para a Igreja, sobretudo, na região Amazônica.