Amanhã, 4 de fevereiro, completa-se um ano desde a assinatura do histórico “Documento sobre a fraternidade humana para a paz mundial e a convivência em comum” entre o Papa Francisco e o Grande Imame de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyib. O pacto não se tornou apenas uma pedra miliar nas relações entre cristianismo e islamismo, mas uma bússola para cultura do diálogo, da colaboração comum e do conhecimento mútuo entre diferentes religiões.
Aproveitando a data, pedimos ao bispo de Cornélio Procópio (PR) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Manoel João Francisco, para apresentar em quais documentos fundamentais da Igreja se assentam as bases para a promoção do ecumenismo e do diálogo inter-religioso.
Segundo o religioso, a tentação da separação existiu desde os primórdios da Igreja. Sabendo desta dificuldade, nos disse dom Manoel, Jesus, antes de partir, reza ao Pai, pedindo que seus seguidores se mantenham unidos. “Eu não rogo somente por eles, mas também por aqueles que vão crer em mim pela palavra deles. Que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim, e eu em ti. Que eles estejam em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,21).
O bispo de Cornélio Procópio informou que no início do movimento ecumênico, no começo do século XX, a Igreja católica não se envolveu. “Pelo contrário se opôs de forma muito dura”, disse. De acordo com dom Manoel, foi só com o Concílio Vaticano II (1962-1965) que aos católicos foi permitido a participação na caminhada ecumênica. “O que era antes proibido e até condenado, a partir do Concílio Vaticano II passou a ser incentivado como ‘sopro da graça do Espírito Santo’ e como ‘sinais dos tempos’ (UR 4)”, esclarece.
O Concílio orienta também, segundo o bispo, que “sem dúvida, é necessário que os fiéis católicos, na ação ecumênica, se preocupem com os irmãos separados, rezando por eles, comunicando-se com eles sobre assuntos da Igreja, dando os primeiros passos em direção a eles. Mas, sobretudo, examinem, com espírito sincero e atento, o que dentro da própria Família católica deve ser renovado e realizado, para que sua vida dê um testemunho mais fiel e luminoso da doutrina e dos ensinamentos recebidos de Cristo, através dos apóstolos” (UR 4).
Outro passo importante, segundo o presidente da Comissão para o Ecumenismo da CNBB, foi dado em 1995, pelo então Papa São João Paulo II em sua Encíclica “Ut Unum Sint”, na qual em vez da expressão “irmãos separados” ainda presente nos textos do Concílio Vaticano II, restabeleceu a expressão “Igrejas irmãs” (UUS 56), própria do primeiro milênio. Nesta mesma encíclica, São João Paulo II pede aos católicos que fujam “do desleixo no empenhamento pela unidade e, mais ainda, da oposição preconcebida ou do derrotismo que tende a ver tudo pelo negativo” (UUS 79).
No documento em preparação ao Jubileu do Ano 2000, “Na Chegada do Terceiro Milênio”, o mesmo Papa, afirmou sua convicção de que o testemunho dos mártires das diversas Igrejas cristãs fala aos nossos dias com voz mais alta do que os fatores da divisão. “A Igreja do primeiro milênio nasceu do sangue dos mártires. (…). No final do segundo milênio, a Igreja tornou-se novamente Igreja dos mártires. (…). O seu testemunho, dado por Cristo, até o derramamento do sangue, tornou-se patrimônio comum dos católicos, ortodoxos, anglicanos e protestantes. (…) O ecumenismo dos santos, dos mártires, é talvez o mais persuasivo (TMA 37).
Diferença entre ecumenismo e diálogo inter-religioso
O ecumenismo é o diálogo entre os cristãos que professam a fé em Jesus, na Trindade, no Mistério Pascal, na Redenção, na Graça, enfim, toda a fé do Novo Testamento. Já o diálogo inter-religioso, como a própria nomenclatura sugere, acontece entre as diferentes religiões (Budismo, Islamismo, Judaísmo, Xintoísmo, Cristianismo, etc).