24/02/2020 Campanha da Fraternidade 2020: O que fazer nas famílias e nas comunidades?

Quando o olhar se volta para a família, o chamado é para uma renovação nas ações de cuidado. A primeira indicação no texto-base da CF 2020 é “reafirmar o valor da família e motivar, organizar, ainda mais a Pastoral Familiar em todos os lugares e ambientes como resposta a esse desafio de tornar nossos lares, nossas casas comunidades de fé, de ternura e de cuidado para com a vida”.

Lugar de promoção e construção da cultura da vida, a família é o primeiro ambiente onde se acolhe a vida nascente e, também por isso, alvo de “múltiplos ataques”. Em São José dos Campos (SP), a Associação Guadalupe atua com gestantes em situação de vulnerabilidade social e no atendimento e aconselhamento de mulheres que apresentam algum risco de interromper a gravidez.

“Essa obra nasceu com o objetivo de salvar as crianças do abortamento. Hoje, muitas jovens procuram interromper a gravidez por falta de apoio, de cuidado, de amparo e nós decidimos fundar uma obra onde pudéssemos amparar essas jovens”, conta a presidente e fundadora da associação Mariângela Consoli de Oliveira.

Contabilizando mais de 4,5 mil crianças salvas do aborto em cinco anos, a Associação Guadalupe oferece assistência médica, psicológica, espiritual e jurídica às gestantes, que podem também contar com auxílio na geração de renda e em oportunidades de trabalho.

“Muitas dessas meninas que nos procuram estão completamente afastadas das famílias, completamente desestruturadas. O que me levou realmente a fundar a Associação Guadalupe foi enxergar naquela gestante o desespero de não ter um lar”, conta Mariângela.

Comunidades

As ações da Campanha da Fraternidade nas comunidades partem de uma reflexão: “De que nós estamos cuidando? De quem nós estamos cuidando enquanto comunidade? Às vezes, a gente cuida de reunião, de quermesse, de festa do padroeiro, mas não cuida nem dessas pessoas que prestam esse serviço, quanto mais de quem está chegando ou que não está presente ali”, sugere padre Patriky.

Numa perspectiva de Igreja em saída, a comunidade eclesial missionária é convidada a valorizar ações de instituições que cuidam da valorização da vida, estabelecer parcerias e fomentar o cuidado da vida, além de assumir a dimensão da colaboração social.

“Tem gente que critica ‘a Igreja não tem que entrar nessas questões políticas’. Eu falo assim: ‘A Igreja entra nessas questões, nesses temas, não porque o Estado foi omisso, não porque é política, mas é porque a omissão do Estado e o modo de viver a política criam uma situação diante da qual quem é cristão não pode ficar calado’. É essa situação que nos move, que a vida que é agredida, não por uma ou por outras ideologias, mas é a vida que clama por sobrevivência”.

“A omissão do Estado e o modo de viver a política criam uma situação diante da qual quem é cristão não pode ficar calado”, padre Patriky Samuel Batista

E a natureza, a Casa Comum, como ensina o Papa Francisco na encíclica Laudato Si’ (Louvado sejas), também clama por cuidado. Os recursos naturais, indispensáveis para a vida humana, precisam das comunidades para sua preservação. É o que aconteceu em Belisário (MG), entre 2016 e 2017. Liderados pelo pároco local, frei Gilberto Teixeira da Silveira, os moradores da região do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro participaram de atos políticos, audiências públicas e caminhadas até conseguirem a aprovação de uma lei na Câmara Municipal que determinou a preservação de uma área de mais de 10 mil hectares e de mais de 2 mil nascentes

Segunda maior reserva de bauxita do Brasil, a região atrairia dezenas de projetos de mineração, o que poderia prejudicar a vida das comunidades que ali vivem. Por conta da mobilização, frei Gilberto foi ameaçado de morte. “A comunidade é, de fato, o lugar da missão, de cuidado com essa região, de preservar a agricultura, de pensarmos uma agricultura familiar sustentável, agroecológica, pensar o turismo e cuidar”, disse o frade.