Fernando Millan, Leornardo Altuve e Enrique Portal são três músicos venezuelanos que formam o grupo “Los Miras”, encontro artístico que se deu a partir da migração venezuelana para o Brasil, especificamente para Boa Vista, capital de Roraima. O grupo, com o apoio da Cáritas Brasileira e Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID/OFDA) , desenvolveu a música “Estamos Juntos” que integra a Semana do Migrante de 2020 e visa sensibilizar a população brasileira em torno do acolhimento e a importância de cidades acolhedoras e, além disso, celebrar a presença dos migrantes na construção de outros brasis: mais solidários e plurais.
A música virou um videoclipe, produzido pela La Mochila Produções, produtora também composta por migrantes venezuelanos que trabalham, a partir do pertencimento e lugar de fala, em uma linguagem comunicacional empática e integrativa. O videoclipe será veiculado na programação nacional da 35º Semana do Migrante nesta quinta-feira, 18.
Com a música, pretende-se despertar na população um sentido ainda mais amplo de acolhimento e união, principalmente nesse momento de crise que todo o mundo atravessa.
Confira aqui o videoclipe que estreou nesta quinta-feira:
Para padre Jesus, que conduz um importante projeto em Pacaraima, o “Café Fraterno”, o jingle é uma ótima campanha contra xenofobia e induz as pessoas a resgatem algo valioso da essência humana: a empatia. “A campanha é importante para conseguir, de uma vez por todas, extirpar do mais profundo dos corações dos habitantes de Pacaraima a infame resposta de Cain: “Por acaso eu sou guardiã de meu irmão?”. Nessa pavorosa resposta esta o alicerce de todos os ódios xenofóbicos, a raiz do racismo que devora a paz, a fraternidade. Que consome o espírito do bom samaritano. Chega de arrogância, preconceitos, autossuficiências que menospreza a alma humana criada para amar, perdoar, acolher e tolerar”, destaca.
O musicista venezuelano Fernando Millan é o responsável pelo conceito musical da canção e explica como construiu a ideia geral. “A história da migração é constante entre os países sul-americanos. Mesmo a Venezuela vivendo o que está vivendo e a gente como migrante venezuelano, a ideia da música foi feita para todos os migrantes, está feita entre espanhol e português e representa a América do Sul”.
Essa inspiração também influenciou a escolha do ritmo, Fernando explica que se inspirou principalmente na cumbia, que é um dos ritmos musicais mais disseminados na América Latina, da Argentina até o México, deixando sua marca inclusive no Brasil. “A cumbia é o ritmo mais representativo da América. A cumbia é um pouco como o milho, dizem que o milho é do México, mas toda América do Sul come o milho de alguma maneira, aqui (Brasil) tem cuscuz, na Venezuela tem arepa, Pupusa em El Salvador, América Central, tem as “gordinhas” no México… enfim, tem muita comida com milho e o mesmo acontece com a cumbia, está em todos os lugares”, explica.
Fernando começou na música desde criança, em seu ambiente familiar, principalmente por parte da sua mãe, uma matriarca que é considerada um patrimônio musical da cultura popular do Estado Bolívar, maior estado da Venezuela, estendendo-se desde a fronteira com a Guiana à leste, ao estado brasileiro da Roraima ao sul, até o Rio Orinoco. A partir da cultura popular de berço, ele resolveu estudar música profissionalmente em Caracas, capital da Venezuela, onde se graduou em percussão na Escuela Superior de Música José Ángel Lamas; entre sua graduação fazia outras formações em música erudita, compunha orquestras sinfônicas de músicas eruditas e na orquestra sinfônica do Estado Miranda tinha vinculação como titular.
Em sua carreira, desenvolveu vários estilos de música e acompanhou vários músicos famosos venezuelanos em turnês internacionais. No Brasil, chegou por meio do festival de Jazz do Tepequém, cidade turística de Roraima e, desde então, está desenvolvendo trabalhos vinculados à criação de jingles e integra o grupo de “Tambores de San Juan”, em Boa Vista, que eventualmente fazem festejos tendo como base a cultura popular venezuelana.
Sobre o futuro da sua carreira, Fernando diz: “Tenho dúvidas se volto a Venezuela ou vou a outra cidade ou país pra tocar e dar aulas, se fosse necessário, também estou procurando terminar meu curso de etnomusicologia à distancia… mas, tudo isso só poderá ser resolvido despois que passar a quarentena”, finaliza.
Com informações da Cáritas Brasileira