O cardeal Stanislaw Rylko, quando de sua atuação no Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, afirmou no livro “Mulheres e Trabalho” que, ao longo dos séculos houve mulheres importantes que escreveram significativas páginas da história ,– e que a própria história da Igreja contém entre suas páginas as mais expressivas e belas figuras femininas – mas, no último século, a presença e a ação pública das mulheres se tornaram uma característica da cultura do presente.
Nesta linha do tempo é oportuno recordar que, desde a época do Papa Pio XII, os pontífices já destacavam a crescente presença das mulheres, principalmente no mundo do trabalho, e não faltaram referências a esse respeito em seus magistérios.
“Se quisermos um futuro melhor, se sonharmos com um futuro de paz, precisamos dar espaço às mulheres”. Essa, por exemplo, foi uma das falas do Papa Francisco durante o encontro com a delegação do Comitê Judaico Americano, por ocasião do Dia Internacional da Mulher, celebrado no dia 08 de março de 2019. O discurso do pontífice vai de encontro com uma característica dos tempos atuais– o reconhecimento do papel que a mulher desempenha na vida pública e no mundo do trabalho.
Em sua primeira Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”, o Papa Francisco já afirmava que “a Igreja reconhece a indispensável contribuição da mulher na sociedade, com uma sensibilidade, uma intuição e certas capacidades peculiares, que habitualmente são mais próprias das mulheres que dos homens”.
Além dele, São João Paulo II, em Carta às Mulheres (1995), já argumentava que é necessário conseguir onde quer que seja a igualdade efetiva dos direitos da pessoa e, portanto, idêntica retribuição salarial por categoria de trabalho, tutela da mãe-trabalhadora, justa promoção na carreira, igualdade entre cônjuges no direito de família e o reconhecimento de tudo quanto está ligado aos direitos e aos deveres do cidadão num regime democrático.
“Obrigado a ti, mulher, pelo simples fato de seres mulher! Com a percepção que é própria da tua feminilidade, enriqueces a compreensão do mundo e contribuis para a verdade plena das relações humanas” (São João Paulo II).
E por falar em contribuição, nesta semana que antecede o Dia Internacional da Mulher, comemorado no próximo 8 de março, o Portal da CNBB recolheu testemunhos da visão de algumas das mulheres (assessoras das Comissões da entidade) sobre a importância de se garantir a presença feminina no âmbito do trabalho e nos vários lugares onde se tomam decisões importantes, como na Igreja e nas estruturas sociais.
Vale lembrar que, nesta atual gestão da CNBB, há uma maior participação da presença de mulheres na liderança das Comissões da CNBB. Ao todo, 5 mulheres prestam assessoria nacional. São elas: irmã Valéria Leal, assessora da Comissão para a Juventude; a irmã Sandra Regina Amado, da Comissão para a Ação Missionária e Cooperação Intereclesial; a irmã Maria Irene Lopes dos Santos, da Comissão Especial para a Amazônia; a Manuela Castro, da Comissão para a Comunicação e Assessoria de Imprensa; e a irmã Izabel Patuzzo, da Comissão para a Animação Bíblico-Catequética.
Confira alguns dos depoimentos:
Irmã Valéria Leal – assessora da Comissão para a Juventude da CNBB
“A diferença é sempre riqueza. No âmbito das tomadas de decisão, ou em qualquer outro, a diversidade de opiniões e de visões de mundo favorecem o discernimento, porque fazem refletir e aprofundar as questões a partir de vários ângulos. Neste sentido, a presença da mulher enriquece trazendo um olhar que lhe é próprio, uma experiência de vida, um pensar e sentir a realidade da Igreja e da sociedade que lhe é peculiar.
A Igreja é diversa e a contribuição feminina nos vários âmbitos da pastoral é imprescindível para a missão de evangelizar. Logo, espaços de escuta da mulher nos espaços de tomada de decisão precisam ser cada vez mais ampliados, visto que pelo Batismo, homens e mulheres compartilham da mesma fé e da mesma missão.
A presença da figura feminina, com sua experiência própria com a vida, com o cuidado, sua forma de relacionar-se, de atuar e pensar são contributos essenciais para que a Igreja consiga falar a todos e todas nestes tempos desafiadores que vivemos”.
Irmã Sandra Regina Amado, assessora da Comissão para a Ação Missionária e Cooperação Intereclesial da CNBB
“O envolvimento da mulher em todas as esferas da vida humana é uma constatação e a sua importância é vital! Para isso, Jesus mesmo abriu espaço à expressão feminina ao reconhecer a força da mulher em todas as dimensões da vida. Vocês se lembram da Samaritana? Se lembram do encontro com Madalena? E Madalena que anunciou a ressurreição de Jesus e se tornou também Apóstola. Olha a imagem daquela religiosa que correu em todas as redes sociais recentemente em Myanmar, uma mulher e irmã que sozinha de joelhos em frente a um Batalhão Militar intercedia pela vida de seu povo. Então, qual é a missão da mulher? É continuar a ser força de vida em todas as esferas.
O Papa Francisco bem entendeu a importância feminina na vida da Igreja abrindo espaço para as mulheres em lugares de tomadas de posições onde se tomam decisões que vão incidir na vida da Igreja e na vida do povo. A força, a garra e a esperança que a mulher traz devem ser valorizadas e levadas a sério.
Vocês se lembram que no projeto “A Amazônia precisa de você”, em meio à pandemia e ao medo, lá no mês de março, voluntárias, religiosas foram enviadas de espaços diferentes do Brasil em um tempo de medo e insegurança? Elas se prontificaram e foram dar um serviço ao povo Amazônico. Que coisa mais linda!
A força, a garra e o oxigênio da esperança que a mulher traz devem ser realmente valorizados. Sem a colaboração da mulher os trabalhos sociais e as estruturas sociais da Igreja seriam mais pobres e de pouca incidência. A Igreja e a nossa sociedade precisa da presença ativa da mulher para continuar a construção do reino de Deus no mundo de hoje.
Força, mulher! A Igreja precisa de você, a sociedade, o mundo necessita de seu abraço, da sua ternura e da sua força!”
Irmã Izabel Patuzzo, assessora da Comissão para a Animação Bíblico-Catequética da CNBB
A vocação à vida Consagrada é uma escolha de servir a Igreja e o Reino de Deus na radicalidade. Nós mulheres consagradas servimos à Igreja nos diversos âmbitos da pastoral. A Assessoria na CNBB é um desses âmbitos, embora esse seja um espaço de atuação do Episcopado e de presbíteros. A presença de nós consagradas nas diversas Comissões Episcopais de Pastoral já tem uma certa caminhada. É com alegria e grande desejo de servir que nos colocamos à disposição pra colaborar com a Igreja a nível nacional segundo os carismas de nossas congregações e preparo pessoal.
Para mim pessoalmente foi uma grande surpresa o convite de colaborar na assessoria nacional da dimensão bíblico-catequética. Minha experiência pastoral nesse campo sempre foi junto ao Povo de Deus. Mas quando fui convidada a fazer parte da comissão fiz um sério discernimento porque sempre atuei em formação bíblico-teológica em Dioceses e Paróquias. Para mim o maior incentivo veio do Papa Francisco que pede a nós mulheres de nos fazermos presentes em todos os âmbitos pastorais de nossa Igreja, sobretudo nos espações de organização e decisão.
Fazemos parte de uma Igreja ministerial; Seguimos Jesus Cristo que instituiu um discipulado de iguais. Somos todos servidores. Nas comissões pastorais, nós mulheres somos a minoria. É uma realidade nova para algumas de nós consagradas, mas isso não impede a colaboração com nossos irmãos Bispos, Presbitérios e Leigos. Claro que temos de acreditar que essa colaboração enriquece nossa Igreja, pois a contribuição feminina tem características próprias. Mas como em uma família o cuidado do pai é diferente do cuidado da mãe, também na pastoral cuidamos das pessoas e grupos que nos é confiado com nosso jeito feminino e materno de ser. A colaboração com nossos irmãos Bispos, Presbíteros, Religiosos e Leigos é uma grande oportunidade de testemunhar que pelo batismo somos iguais e que Jesus continuamente chama ao seu serviço discípulos e discípulas dispostos a caminhar juntos e nos acolher nas diferenças.
Acredito que tanto para nós assessoras como para os assessores é um caminho de aprendizado, pois o diferente pode questionar o habitual, em nosso caso, poucas mulheres levando adiante grandes responsabilidades nas comissões. Mas penso que por mais desafiante que seja, devemos ocupar o espaço que nos é oferecido. Responder ao convite de fazer parte das comissões é uma resposta aos desafios que o Papa nos faz, de não nos ausentar dessas tarefas. É ser fiel à nossa tradição apostólica, pois nas primeiras comunidades cristãos as mulheres assumiram com grande protagonismo ao anúncio de Jesus Ressuscitado aos irmãos.
Irmã Maria Irene Lopes, assessora da Comissão Especial para a Amazônia da CNBB
Gostaria de em um primeiro momento contextualizar a força e o dom das mulheres, segundo o Documento da Querida Amazônia. Na Amazônia, muitas comunidades se mantiveram e transmitiram sua fé durante longos anos sem nenhuma presença de sacerdote que passasse por lá. Isso só foi possível graças a presença de mulheres fortes e generosas que batizaram, catequizaram, ensinaram a rezar e foram missionárias. Certamente chamadas e impelidas pelo dom do Espírito Santo.
Durante séculos, as mulheres mantiveram a Igreja de pé nesses lugares com admirável dedicação e fé ardente. No Sínodo também essas mulheres conseguiram e comoveram todos com suas palavras e também seus testemunhos. Isso nos convida a alargar o horizonte para evitar de reduzir a nossa compreensão de Igreja a meras estruturas racionais, por isso a presença das mulheres é uma presença – não de forma clericarizada -, isso diminuiria o valor que elas têm, mas já que sutilmente poderia levar também ao empobrecimento essa contribuição que é indispensável.
As mulheres prestam sua contribuição à Igreja segundo o modo que lhes é próprio e prolongando a força, a ternura que vem de Maria, mãe de Deus. Assim, compreendemos porque radicalmente sem as mulheres a Igreja desmoronaria, bem como teria caído aos pedaços muitas comunidades da nossa querida Amazônia se não estivessem por lá as mulheres sustentando-a, conservando-a e cuidando dela. Isto mostra qual é o poder característico da mulher na Igreja.
A situação atual exige que estimulemos o aparecimento de outros serviços, outros carismas femininos que deem respostas às necessidades específicas dos povos amazônicos nesse momento histórico em que vivemos. O Santo Padre, o Papa Francisco, destaca o papel das leigas e leigos no qual ele considera como verdadeiros protagonistas no Anúncio do Evangelho e pede que, especialmente as mulheres, participem de cargos de decisão.