Na Igreja Católica, o Ano Litúrgico é marcado por duas grandes festas: Natal e Páscoa. O Advento nos prepara para o Natal e nos oferece a melhor companhia para preparar o nascimento de Jesus: a Palavra de Deus. Agora, vamos preparar a Páscoa. A Quaresma e a Campanha da Fraternidade vão nos ajudar a viver o caminho de Cristo, que experimentou, desde o presépio, o esvaziamento da glória divina, para que, na Páscoa, fosse exaltado e glorificado.
1. A palavra Quaresma:
Deriva do latim quadragésima, isto é, o quadragésimo dia antes da Páscoa. O número 40 tem, na Bíblia, grande força simbólica. Relembra os quarenta anos que o Povo de Deus passou pelo deserto; os quarenta dias e quarenta noites que Moisés passou no Monte Sinai; os quarenta dias e quarenta noites durante os quais o profeta Elias, fortificado pelo pão e pela água, chegou ao Monte Horeb; os quarenta dias e quarenta noites foi também a duração do dilúvio; assim como por quarenta dias o profeta Jonas pregou a penitência aos habitantes de Nínive. O próprio Jesus passou quarenta dias no deserto, lutando contra as tentações e preparando-se para a missão. Os 40 dias vão da “quarta feira de cinzas” até a “quinta feira santa”, início do chamado “tríduo pascal”. A Quaresma é, portanto, um tempo especial de reflexão. É tempo de esvaziamento de nosso orgulho, vaidade e egoísmo para nos plenificar, na Páscoa, da verdadeira vida, que é Jesus. A Quaresma é o tempo de deserto. É tempo de enfrentar os grandes desafios da vida. É tempo de travar uma grande batalha contra os nossos defeitos, vícios e tudo o que nos afasta de Deus. É tempo de acompanhar Jesus na sua caminhada de sofrimento, morte e ressurreição.
2. Quando surgiu a Quaresma
Por volta do ano 350 d.c., a Igreja decidiu aumentar o tempo de preparação para a Páscoa, que era de três dias (tríduo pascal), que permaneceram como o Tríduo Sagrado da Semana Santa: quinta-feira santa, sexta-feira santa e sábado santo. A preparação para a Páscoa passou, então, a ter quarenta dias. Isto aconteceu porque os cristãos perceberam que três dias eram insuficientes para que se pudesse preparar adequadamente tão importante e central evento. Surgia, assim, a Quaresma.
3. A espiritualidade da Quaresma:
Apresenta três elementos que nos permitem captar o sentido profundo desse tempo. O JEJUM: ao jejuar, purificamos não somente o nosso corpo, mas também o espírito. E quanto menos apego e coisas houver em nosso coração, mais espaço haverá nele para Deus. A ORAÇÃO: para expressar o nosso amor a Deus e o desejo de realizar a sua vontade, somos convidados a intensificar a oração pessoal e comunitária. A CARIDADE: somos convidados a quebrar o nosso egoísmo e imitar a misericórdia de Deus, repartindo o pão com os necessitados. Para tanto, no Domingo de Ramos, a Igreja propõe a coleta da Campanha da Fraternidade manifestando assim, o nosso espírito de solidariedade para com os aqueles que mais precisam da nossa ajuda.
4. Quaresma no Brasil
A partir da década de 70 a Igreja no Brasil colocou, na devoção dos fiéis, que tradicionalmente acompanham, com muita piedade, a caminhada de Jesus para a Páscoa, um reforço à vivência do amor, da caridade que liberta, visto que Jesus deu sua vida para nos salvar. Ao colocar a Campanha da Fraternidade no período da Quaresma, ela quer que sua organização seja uma mediação muito prática, para a vivência da caridade; desenvolver e aprofundar a fraternidade, segundo o mandamento do amor: “amar o próximo como Jesus nos amou”. Cada ano um tema é tratado no espírito quaresmal de conversão, através da meditação, da oração, do jejum, da partilha – no sentido da caridade que liberta. Para facilitar a Igreja oferece um texto base no esquema Ver, Julgar, Agir, e diversos subsídios de apoio, motivando e estimulando os fiéis a levarem a meditação sobre Jesus perseguido e sofredor, e as demais práticas da Quaresma, para atitudes concretas em favor do outro, privilegiadamente os sofredores. Em síntese, a CF procura renovar a vida da Igreja assim como estimular a promoção humana em vista de uma sociedade justa e solidária.
5. Quaresma e CF em 2017.
A Igreja no Brasil, através das Campanhas da Fraternidade, muito tem contribuído para os cuidados para com o Povo de Deus, assim como, com os temas socioambientais. Neste ano de 2017, o tema da CF é: “Biomas brasileiros e defesa da vida” e o lema: “Cultivar e guardar a criação”, fazendo eco ao texto de Gênesis 2, 15. Com esta abençoada iniciativa, a Igreja propõe olhar com carinho e despertar o cuidado para com a natureza, em especial, os biomas brasileiros, dons de Deus. Com este tema a Igreja procura também promover relações fraternas com a vida e a cultura dos povos, à luz do Evangelho.
Esta Campanha evidencia a beleza natural e a diversidade do nosso país, por meio dos seis biomas brasileiros: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal. Juntos, este biomas abrigam cerca de 14% da biodiversidade de plantas do mundo. A vegetação brasileira é uma das mais ricas do planeta.
Biomas são as maiores áreas contínuas de um mesmo tipo de ecossistema (plantas e animais) que conseguimos reconhecer em nível nacional. É uma paisagem que reúne os diversos elementos da natureza.
No Mato Grosso temos três biomas: Amazônia (a bacia amazônica é a maior bacia hidrográfica do mundo), Cerrado (é o bioma brasileiro mais antigo, com mais de 65 milhões de anos) e Pantanal (maior planície inundável do mundo com a maior concentração de animais por quilômetro quadrado das Américas).
A Quaresma é isso então: homens e mulheres de boa vontade que se recolhem, neste tempo especial, a fim de refletir sobre sua missão aqui na terra. O foco da Quaresma, portanto, sempre foi e continuará sendo a nossa conversão ao Senhor e ao que Ele quer de nossa vida e do mundo. Não percamos esta oportunidade.
Pe. Jair Fante
Secretário Executivo da CNBB – RO2