10/07/2020 Relíquia de Santo Antônio: da Basílica de Pádua para veneração em paróquia do Mato Grosso

A Igreja de Santo Antônio, a primeira da cidade de Sinop/MT, já conserva uma relíquia de primeiro grau proveniente da Basílica de Pádua, na Itália. Em reportagem especial, vamos conhecer a história de persistência e fé de uma artista plástica local que fez a solicitação para que uma parte do corpo do santo fosse preservada para veneração no templo que ela mesma projetou em honra ao padroeiro da cidade.
Esta história é de agradecimento à intercessão de Santo Antônio, já que foi “um presente atrás do outro”, conta emocionada a artista plástica Mari Bueno. A mesma história congrega o presente também recebido pelos devotos em Mato Grosso que, através da Paróquia da Igreja de Santo Antônio na cidade de Sinop, podem venerar uma relíquia do santo, proveniente da própria Basílica de Pádua, na Itália.

 

A relíquia ‘ex massa corporis’ de Santo Antônio (‘do corpo de Santo Antônio’)

Como a relíquia chegou ao Brasil

O processo de solicitação começou ainda em 2015 e foi marcado pela persistência de uma artista plástica local, Mari Bueno, especialista em Mariologia, Arte Sacra e Espaço Litúrgico. De fato, o primeiro templo católico de Sinop, em homenagem a Santo Antônio, criado em 1976, foi reconstruído por idealização da artista depois de ser contemplado por projeto da Lei de Incentivo à Cultura do governo federal.

Mari Bueno, além de ser devota do santo, também foi “presenteada por Deus” para fazer a pintura da reconstrução facial de Santo Antônio impressa em 3D, num trabalho conjunto de profissionais brasileiros. Hoje, a peça está na Sala do Centro de Estudos Antonianos dentro da própria basílica na Itália, “a mesma igreja onde meu avô, quando criança, ia à missa com os meus bisavós”, conta a artista.

Uma relação estreita de Mari com o santo e a fé que a fez, então, iniciar o processo para ter uma relíquia de Santo Antônio perto de casa, naquela igreja que logo sairia do papel com o seu projeto arquitetônico, litúrgico e de arte sacra. Lá em 2015, quando se preparava para viajar à Itália a trabalho:

“Eu quis fazer esse contato dessa paróquia aqui, com vários imigrantes do Sul que tem descendência italiana, que são católicos, devotos. Peguei tudo que eu tinha de material aqui, da cidade na déc. de 70, material da cidade no ano que eu fui (2015), material da igreja desde o começo, da primeira missa, tudo que eu tinha de histórico e atual. Fui conversar com o bispo que, na época, era dom Gentil Delazari.”

Munida ainda com a carta do bispo local, Mari Bueno viajou à Itália e entregou todo o material ao Pe. Enzo Poiana, na época, reitor da Basílica de Pádua.

Mari Bueno com Pe. Enzo Poiana, na Basílica de Santo Antônio de Pádua, na Itália, em 2015

“E ele mesmo falou para mim, sem nem eu falar nada: disse que gostaria muito de ir na inauguração da igreja, faria o possível pra isso e que também gostaria de doar uma relíquia. Ah! Foi uma felicidade enorme! E aí nós ainda tínhamos 2 a 3 anos de acabamento e de construção da igreja. Mas aí, no ano seguinte, vejo matéria sobre ele e, não acreditei, mas ele tinha falecido.”

De férias em 2016, o sacerdote teve um infarto súbito e faleceu aos 56 anos de idade. O processo para conseguir a relíquia continuou mesmo assim, inclusive com a transição dos párocos e dos bispos na cidade de Sinop. “Agora eu só tinha a palavra do Pe. Poiana, não tinha nada escrito. Eu tinha os e-mails, tinha foto com ele, mas eu não tinha nada escrito”, comentou Mari.

A retomada do processo para enviar a relíquia

Com a autorização do novo bispo, o processo seguiu diretamente com o novo reitor da Basílica que recebeu todo o material novamente e assumiu o compromisso do antigo reitor para enviar a relíquia ao Brasil, que chegou à cidade, com atraso, depois da construção e da dedicação da igreja. A relíquia, assim, acabou sendo guardada e, há pouco mais de 30 dias, chegou o Pe. Roberto Gotardo para finalmente concretizar o sonho de Mari Bueno e de milhares de devotos, já que são poucas as igrejas no mundo que conservam uma preciosidade como aquela proveniente da Itália.

A classificação das relíquias

As relíquias são sinais concretos da relação que cada um procura fazer com o santo e podem ser classificadas em níveis, como conta a artista, seguindo uma ordem de maior a menor importância: “de 1º grau corresponde à parte do corpo (tais como ossos, unhas, cabelo, sangue etc.); de 2º grau são objetos de uso pessoal do santo (tais como roupas, cajados, crucifixos etc.); e de 3º grau os objetos que apenas eventualmente tocaram o corpo do santo (lenços, pedaços de pano etc.)”.

Finalmente, a deposição e veneração

Na semana em que a Igreja recorda Santo Antônio, veio o pedido às pressas à artista plástica para fazer um relicário, projetado em formato circular, no mesmo mármore usado nos outros espaços idealizados por Mari Bueno no templo. No dia 13 de junho, então, em respeito às normas sanitárias por causa da pandemia, foi feita a deposição da massa óssea do padroeiro no relicário pelo bispo diocesano, Dom Canísio Klaus:

“Que sejamos cada vez mais movidos pela santidade, que possamos viver também as virtudes de Santo Antônio e que ele seja o nosso grande intercessor na busca pela santidade, que é a vocação para a qual todos fomos chamados. Como nos pede o próprio Cristo Jesus, ‘sede santos como Eu sou santo’.”

O documento, traduzido ao português, proveniente da Itália

Na ocasião, Pe. Roberto Gottardo leu um documento da Província Italiana de Santo Antônio de Pádua dos Franciscanos Menores Conventuais à comunidade. O pároco destacou que o envio da relíquia ‘ex massa corporis’ de Santo Antônio (‘do corpo de Santo Antônio’) é feita para a edificação de todas as pessoas que frequentam a paróquia.

No texto, datado de 2018, o vice-provincial, Pe. Roberto Brandinelli, afirma: “estamos convencidos que Santo Antônio saberá inspirar, confortar e infundir coragem a todos os membros das comunidades cristãs que terão acesso à relíquia. Que o nosso santo interceda por todos, conduzindo-os a um amor incondicional ao Senhor e a um testemunho convincente de vida cristã”.

“Ficou guardada, mas aconteceu tudo na hora certa. Foi muito abençoado, foi uma celebração muito linda, uma paz e uma tranquilidade, e tudo fluiu na semana! Por mais que estava em cima da hora, fluiu tudo certinho. Todo mundo colaborou, foi a união de muita gente, então, deu tudo certo! E essa é a paróquia que eu fiz a minha 1ª comunhão, quando era de madeira ainda, é a paróquia que eu casei e batizei os meus filhos. Então, eu tenho uma história toda envolvida com ela e, graças a Deus, deu certo a vinda da relíquia para cá. A comunidade ficou muito feliz e foi muito bacana toda essa união.”

https://www.youtube.com/watch?v=XoeI_Wu1Gqs&feature=emb_rel_err

Fonte: vaticannews