Desmatamento desenfreado e concentração fundiária no Maranhão foram temáticas abordadas durante o encontro
A diocese de Imperatriz (MA) organizou, entre os dias 10 e 12 de fevereiro de 2017, o Seminário “Os Desafios Ambientais da Amazônia”, a partir da carta encíclica do papa Francisco Laudato Si’ (Louvado Sejas). O encontro foi realizado na cidade de Imperatriz (MA) e aconteceu em parceria com as dioceses maranhenses de Viana, Grajaú, Carolina e Balsas. Participaram 120 pessoas, entre lideranças indígenas, sertanejos, ribeirinhos, quilombolas, pescadores artesanais, geraizeiros, quebradeiras de coco, moradores das cidades, lavradores, pastorais sociais, sociedade civil organizada, religiosas e religiosos, padres e bispos. O Seminário foi promovido pela Comissão Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam) e pelo regional Nordeste 5 da CNBB.
A proposta do Seminário é tecer redes e estabelecer intercâmbios entre os povos da floresta, visando debates para provocar transformação da realidade local diante dos impactos ambientais que a Amazônia vem sofrendo, bem como seus povos. Foram tratadas questões como o desmatamento desenfreado, a concentração fundiária no Maranhão, a contaminação dos rios, as violações aos direitos humanos e da natureza, no contexto amazônico.
A Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam) foi fundada oficialmente em setembro de 2014. Abrange os nove países do bioma amazônico. No Brasil engloba nove estados brasileiros no território da Amazônia Legal. Os Seminários Laudato Sì estão sendo realizados nos seis Regionais da CNBB da Amazônia Legal desse território, dialogando as realidades locais com a encíclica do Papa Francisco. A região amazônica é um dos maiores berços de biodiversidade ecológica e cultural do planeta. A preocupação da Igreja com esta região é histórica e volta-se para o cuidado e proteção desta grande casa comum.
A partir das discussões do seminário, os participantes publicaram uma Carta Compromisso, ei-la na íntegra:
Reunidos/as em Imperatriz, às margens do rio Tocantins, nós, mulheres quebradeiras de coco, indígenas, quilombolas, lavradores/as, assentados/as, catadores/as de materiais recicláveis, geraizeiros/as, pastorais sociais, sociedade civil organizada, leigos/as, religiosas/os, padres e bispos; 120 participantes do Seminário promovido pela Comissão Episcopal para a Amazônia da CNBB, Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) e pelo Regional Nordeste 5, nos dias 10 a 12 de fevereiro de 2017, ouvimos os clamores da terra e dos povos da nossa Amazônia. O capital, sobrepondo-se ao bem viver, envenena rios e fontes, polui o ar, a terra e as águas, escraviza nossos irmãos e irmãs, incentiva o consumismo desenfreado, destrói a natureza, marginaliza os povos tradicionais, institui a monocultura, devasta nosso bem mais valioso que é a Vida.
Refletindo à luz dos ensinamentos da Encíclica Laudato Sì do papa Francisco, nos damos conta da necessidade de unirmos forças na luta comum, apoiados nos diálogos entre as pastorais sociais e os movimentos dos povos tradicionais. Somos, em nossa maioria, os/as oprimidos/as e afetados pelos grandes empreendimentos desenvolvimentistas que privilegiam poucos. Faz-se, portanto, urgente que nos reorganizemos, principalmente, na atual conjuntura pós-golpe, com perda de direitos adquiridos e da investida do governo num projeto de morte.
O aumento da exploração mineral e a expansão do agronegócio ameaçam a vida e a natureza. O programa federal MATOPIBA, que abrange os Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, ameaça destruir 73 milhões de hectares do bioma cerrado. Esse bioma é berço das águas, de riquíssima biodiversidade e há centenas de anos abriga populações tradicionais, como indígenas, quilombolas, geraizeiros, ribeirinhos, pescadores e camponeses. O MATOPIBA é a expressão concreta da “complexa crise socioambiental”, a que o Papa Francisco se refere na Laudato Sì (LS, 139).
Precisamos fortalecer os movimentos sociais com uma nova ordem política, social, econômica e ambiental. No Maranhão já existem muitas articulações de forças vivas: povos tradicionais, pastorais sociais e movimentos populares, entre elas a TEIA. Estas iniciativas estão em perfeita consonância com a espiritualidade e as práticas propostas pela Laudato Sì, que afirma “tudo está interligado” (LS, 117).
Não podemos nos submeter à lógica do atual sistema de desenvolvimento econômico que exige o sacrifício de populações inteiras em favor de uma minoria. Quem mais tem, acredita precisar sempre mais. Nós queremos um envolvimento que respeite os povos e seus modos de existência, que nos faça reencontrar o nosso lugar na comunidade. Precisamos superar o individualismo e o descompasso das informações.
Cabe a nós o papel de cuidar da Criação, colaborando com Deus, denunciando as práticas devastadoras das fontes da Vida, estimulando uma profunda “conversão ecológica” de toda a sociedade (LS, 217). Precisamos ter ciência de que não somos proprietários da natureza, generosamente doada para o bem viver em harmonia. Somos “peregrinos e passageiros” (LS, 67), outras gerações virão depois de nós. Faz-se necessário retomar e fortalecer o compromisso social da nossa Igreja, em sua missão profética, cultivando sempre a espiritualidade descrita na Laudato Sì. A Encíclica do Papa “deve chegar a todos que habitam este planeta” (LS, 03).
Por fim, motivados/as pelas provocações deste Seminário e novamente iluminados/as pelos ensinamentos da Laudato Sì, assumimos o compromisso de:
• Tornar conhecida a Repam, através do fortalecimento das pastorais sociais a nível diocesano e regional;
• Articular e fortalecer as pastorais sociais, consolidando um Comitê da Repam a partir das dioceses do Sul do Maranhão, incluindo lideranças dos povos tradicionais e dos movimentos populares, com o apoio do Secretariado do Regional Nordeste 5;
• Continuar o estudo e o repasse das propostas e orientações da Laudato Sì, envolvendo as mais diversas instâncias eclesiais e movimentos populares;
Entidades presentes no Seminário:
Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis de Imperatriz – Ascamari
Campanha da Fraternidade Imperatriz
Cáritas Regional Nordeste 5 da CNBB
Centro de Cultura Negra Negro Cosme
Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos – Carmém Bascaran
Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos – CEBI
Comissão Pastoral da Terra de Balsas
Comissão Pastoral da Terra de Imperatriz
Comitê Cidadania de Imperatriz
Comunidades Eclesiais de Base – CEBs
Conselho Indigenista Missionário – CIMI
Conselho Nacional dos Leigos do Brasil – CNLB Imperatriz
Diocese de Balsas
Diocese de Carolina
Diocese de Grajaú
Diocese de Imperatriz
Diocese de Viana
Faculdade de Educação Santa Teresinha – FEST Imperatriz
Fundação Nacional do Índio – Funai
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis –Ibama
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio
Rede Justiça nos Trilhos
Legião de Maria
Ministério da Palavra
Movimento das Mulheres Camponesas – MMC
Movimento de Cursilhos de Imperatriz
Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu – MIQCB
Pastoral Catequética
Pastoral da Comunicação – Pascom
Pastoral da Criança
Pastoral da Juventude
Pastoral do Idoso
Pastoral Indigenista
Pastoral Social
Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Balsas
Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica das Redes Públicas Estadual e Municipais do Estado do Maranhão – SINPROESEMMA
Imperatriz, 12 de fevereiro de 2017