Na tarde da segunda-feira, 12 de abril, aconteceu a primeira coletiva de imprensa da 58ª Assembleia Geral da CNBB, que teve como mediador o bispo auxiliar da arquidiocese de Belo Horizonte e presidente da Comissão Episcopal para a Comunicação da entidade, dom Joaquim Mol Guimarães.
Baseados no tema “o pilar da Palavra de Deus”, os bispos participantes da coletiva foram convidados a se manifestar acerca da importância que a vivência da Palavra deve ter na vida dos cristãos e da própria Igreja. Entre eles estava o bispo da diocese de Garanhuns (PE), biblista e presidente do Regional Nordeste 2 da CNBB, dom Paulo Jackson Nóbrega de Sousa.
Dom Paulo, em sua apresentação inicial, destacou que a “Assembleia da CNBB é uma grande experiência de colegialidade, sinodalidade e reencontro, especialmente porque não pôde acontecer no ano passado. Segundo ele, trata-se de um momento muito rico em virtude da partilha da Palavra, que é o próprio Cristo em meio a nós”.
Ele lembrou, ainda, que no Brasil – e na América Latina em geral -, a partir da Dei Verbum, documento do Concílio Vaticano II sobre a Revelação, iniciou-se um imenso e belíssimo movimento bíblico de caráter popular, por meio do qual surgiram inúmeras iniciativas como círculos bíblicos, grupos de leitura orante e o Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI) em várias localidades, o que possibilitou à Igreja adquirir uma larga experiência no estudo, na oração, na pregação, na mística e na missionariedade da Palavra.
Sobre o documento do tema central, ele disse que parte do texto da parábola do semeador, no capítulo 13 do Evangelho segundo Mateus, que traz a confluência do semeador, que é Cristo, zeloso e operante, a fecundidade e a força generosa da semente, que é a Palavra de Deus, e também o questionamento da qualidade dos vários terrenos, simbolizados pelo coração humano.
Segundo o Bispo de Garanhuns, à luz desta parábola, a Igreja é convidada a refletir sobre a animação bíblica da vida e da pastoral, o que não significa fazer atividades de estudos bíblicos somente, mas levar em conta a vida integral da pessoa e das comunidades eclesiais missionárias, como também a própria pastoral e a missionariedade, ou seja, todo esse contexto animado pela força da Palavra de Deus. O convite se estende também à reflexão do processo de Iniciação à Vida Cristã, o processo catecumenal, de inserção em uma comunidade eclesial, que deve ser movido e gerido pela força da Palavra.
De modo muito prático, continuou dom Paulo Jackson, há muitos desafios à semeadura. Um dos capítulos trata a respeito deles: o acesso à Palavra de Deus, que para algumas pessoas se traduz na incapacidade financeira de adquiri-la; outras, por causa do analfabetismo; outras, por causa de alguma deficiência. Por isso, o grande movimento em torno do uso do sistema de Língua Brasileira de Sinais (Libras) e do braille. Há ainda a problemática das versões diferentes da Bíblia, havendo divergências de um texto para outro.
Outra questão a ser considerada é que muitas tribos indígenas na Amazônia ainda não têm uma Bíblia traduzida na sua língua. Deve-se lembrar também que outro grande desafio é a ausência de um primeiro anúncio querigmático, uma vez que não se pode partir do pressuposto de que as pessoas já conheçam a Palavra de Deus.
As várias formas de fundamentalismo, baseadas no literalismo, no historicismo ou no pietismo também são grandes entraves. A teologia da prosperidade, que dificulta a vinculação com o mundo da fé, é outro grande obstáculo. Por fim, dom Paulo Jackson citou a necessidade de se “casar” a dimensão pessoal com a dimensão social e ecológica. “Não se pode absolutizar uma única perspectiva”, disse.
“Para muitos, a Bíblia é um livro estranho e difícil. Não se pode esquecer três contextos muito complexos: a extrema pobreza, a violência institucionalizada e a globalização da indiferença. Quem tem vinculação com a Palavra de Deus, não pode estar fechado a essas realidades… para que o mundo seja mais parecido com o que o Deus-Palavra deseja”, concluiu.